Folha de S. Paulo


Agência americana quer eliminar privacidade digital, diz Greenwald

Em tempos nos quais se tornou corriqueiro que se armazene todas as informações pessoais em um computador, a frase com a qual o jornalista americano Glenn Greenwald terminou, na manhã deste sábado (2), sua participação na Flip soou assustadora.

"A NSA não precisa de motivo para espionar. Eles querem monitorar toda forma de comunicação eletrônica. O objetivo é eliminar a privacidade na era digital", disse.

Greenwald escreveu a série de matérias feitas a partir de documentos obtidos pelo ex-analista da NSA (a agência nacional de segurança americana), Edward Snowden, há um ano vivendo no exílio na Rússia. Ele dividiu a mesa com o documentarista americano Charles Ferguson.

Em comum, os dois têm a preocupação com a impunidade com que temas aparentemente díspares como a tortura e a espionagem -no caso de Greenwald- e fraudes financeiras- tema de Ferguson- vêm sendo tratados.

Greenwald mencionou o fato de uma comissão interna da CIA ter concluído que a agência invadiu computadores de senadores que apuravam se estavam sendo espionados -o que era negado. Lembrou também que na sexta (1º) o presidente Barack Obama admitiu que houve tortura após o 11 de setembro.

"São grandes mentiras descobertas e nada acontece. O chefe da CIA negava a espionagem e continua no cargo. A admissão de Obama surpreende pelo tom casual. Ele disse 'we tortured some folks' ['torturamos alguns caras']. O subtexto é 'podemos fazer o que quisermos, torturar, mentir, sem sofrer nenhuma consequência'", disse Greenwald.

"O que houve em 2008 foi uma gigantesca fraude criminosa. Obama sempre diz que houve coisas erradas, mas não criminosas. Ele não é um idiota. Sabe que está mentindo", disse Ferguson.

Para Greenwald, foi o que chamou de "sistema corrupto" que levou um jovem bem-sucedido, como Snowden, a roubar milhares documentos confidenciais. "Ele sempre diz que não conseguiria viver sabendo que poderia ter agido e não o fez", disse.

Por isso, diz Greenwald, países como o Brasil e a Alemanha, que descobriram estar sendo espionados graças à divulgação dos documentos secretos da NSA, "têm a obrigação moral de fazer por ele o que ele fez por nós".

"O único motivo para esses países não concederem asilo a Snowden é o fato de terem mais medo dos EUA do que coragem de defender o cidadão que se sacrificou por eles", disse, sob aplausos.

A situação atual de Snowden, diz Greenwald, é confortável, já que seu visto para permanecer na Rússia deverá ser renovado. "A chance de pegar Snowden é praticamente zero e isso vai incentivar outras pessoas a tomarem atitudes semelhantes."


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