Folha de S. Paulo


Guilherme Arantes canta hits a capela no lançamento de 'Pavões Misteriosos'

Do pepino do Chacrinha às requebradas de Valesca Popuza, o cantor Guilherme Arantes deu uma aula, que misturou política, movimentos sociais e econômicos, música brasileira das antigas e das atuais, para traçar um perfil efervescente da cultura brasileira entre 1974 a 1983 e, de quebra, retratar o cenário atual.

O cantor participou nesta sexta (1º) de um encontro com o jornalista e crítico André Barcinski, na Casa Folha, em Paraty, para o lançamento do livro "Pavões Misteriosos", da Três Estrelas, editora do Grupo Folha. Cerca de 250 pessoas participaram do evento, fora o público que acompanhou a conversa pelo lado de fora.

O bate-papo foi intercalado por antigos hits. Em menos de 30 minutos de conversa, Guilherme Arantes fez a plateia toda cantar "Planeta Água", um de seus maiores sucessos, dos anos 1980. Arrancou risos dos presentes ao trocar para o passado alguns verbos da música e frisar: "Águas que banhavam aldeias e matavam a sede da população", numa referência ao problema de abastecimento em São Paulo.

O músico foi muito aplaudido quando disse que o Brasil precisa de um candidato educador. "Não um de Sorbonne", afirmou, sorrindo. "Estamos com saudade de um professor. A educação é a chave da inclusão."

Ao citar a importância de programas como o do Chacrinha, "um verdadeiro disc jockey, que fazia 40 artistas martelarem suas músicas na TV", criticou a falta de espaço para as novas canções na TV brasileira.

"O Brasil foi o último país da abolição e o último que ainda dá tanto espaço para os realities", afirmou. "Coisa de sociedade doente."

O cantor e compositor paulistano defendeu o funk em resposta a uma pergunta da plateia. "Uma das coisas mais importantes da música é promover o rito. O que a Valesca Popozuda faz é provocar um ritual", disse.

Na sua avaliação, o funk é um contentor de violência. "Cada camada da sociedade tem sua própria linguagem, mas só acho que o discurso do funk, do pagode e da música sertaneja precisa evoluir."

Para o cantor, que fez 61 anos na última segunda-feira (28) e ouviu a plateia cantar "Parabéns a Você", o esfacelamento do papel das grandes gravadoras está fazendo com que a música volte a ser um artigo de "quem a ama".

"Daqui a cinco anos, elas vão vender seus acervos a um preço baratíssimo. Vão abandonar o barco." O presente já é, avalia, "cara a cara com o público".

Disse que o país deveria criar uma lei que obrigasse as gravadoras a liberarem seus acervos para as famílias dos autores.

Questionado pelo mediador do debate, o jornalista da Folha Ivan Finotti, quanto pagaria por seu próprio acervo, ele disse que daria cerca de R$ 300 mil, ou seja, R$ 30 mil para cada um dos dez discos gravados, hoje em poder de uma grande gravadora.

Então, novamente a capela, cantou "Amanhã", aquela que diz "será um lindo dia", para o delírio final do público.


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