Folha de S. Paulo


Acordos internos fazem ABL ter sucessão tripla sem disputas

A disputa pelas cadeiras vazias na ABL (Academia Brasileira de Letras) não deve causar dor de cabeça aos candidatos à "imortalidade".

Acadêmicos ouvidos pela reportagem dão como certo que as vagas serão ocupadas pelo poeta e colunista da Folha Ferreira Gullar, pelo historiador Evaldo Cabral de Mello e pelo jornalista e escritor Zuenir Ventura.

Os três já se candidataram aos lugares deixados em aberto após a morte dos escritores Ivan Junqueira (3/7), João Ubaldo Ribeiro (18/7) e Ariano Suassuna (23/7).

Gullar vem recebendo convites para se candidatar há mais de 20 anos, portanto seu lugar na vaga do também poeta Ivan Junqueira é considerado como bem guardado.

Mas uma discreta dança das cadeiras marcou a candidatura às outras duas.

Zanone Fraissat - 6.ago.2013/Folhapress
O poeta e colunista da Folha Ferreira Gullar, na noite de lançamento de seu livro
O poeta e colunista da Folha Ferreira Gullar, na noite de lançamento de seu livro "A Menina Cláudia e o Rinoceronte"

Ventura, que havia se candidatado à sucessão de Ubaldo no último dia 24, trocou para a vaga de Suassuna para evitar competir com o historiador Evaldo Cabral de Mello, irmão do poeta e acadêmico João Cabral de Melo Neto (1920-1999).

"Um acordo de cavalheiros", foi como o imortal Cícero Sandroni descreveu a manobra dos acadêmicos.

O mérito de Cabral de Mello era inegável a todos. Historiador importante, foi organizador inclusive de um livro sobre um dos fundadores da casa, Joaquim Nabuco. Mas Ventura é visto com admiração pelos colegas.

SUCESSÕES POLÊMICAS

A tripla sucessão deste ano se desenha tranquila, mas a Academia já viu eleições polêmicas, como a de Roberto Campos (1917-2001), em 1999.

Ministro na ditadura, Campos concorreu à vaga do comunista Dias Gomes (1922-1999), provocando revolta na viúva do escritor. Mesmo com a polêmica, foi eleito.

A sucessão do economista causaria nova controvérsia –a vaga foi preenchida por Paulo Coelho, em 2002.

Para alguns, a obra do autor de best-sellers não era considerada digna, mas seus defensores argumentavam que a notoriedade do escritor justificava sua presença e atrairia atenção para a ABL.

Também não foi fácil explicar a entrada do cirurgião plástico Ivo Pitanguy.

SIMPATIA

Para ocupar uma cadeira na academia, é preciso, além de ser brasileiro e ter publicado ao menos um livro, ter muitas qualidades, mas a de que os acadêmicos não abrem mão é a simpatia.

"Elegemos por mérito, mas temos uma inclinação por aqueles que não são chatos", diz o imortal Alberto da Costa e Silva. Ele acrescenta que é uma "seleção natural".

Por divertida coincidência, uma das revistas literárias onde surgiu a ideia para a ABL chamava-se "Panelinha".

*

DISPUTA PELA IMORTALIDADE

Conheça as cadeiras que ficaram vazias e seus principais concorrentes:

Eduardo Anizelli/Folhapress
O escritor Ariano Suassuna
O escritor Ariano Suassuna

CADEIRA 32 Pertencia a Ariano Suassuna, escritor e dramaturgo paraibano morto aos 87 anos
ELEITO EM 3/8/1989, na sucessão de Genolino Amado
PATRONO Araújo Porto-Alegre (1806-1879)
PRINCIPAIS CONCORRENTES Zuenir Ventura, 83, jornalista e escritor mineiro

Leticia Moreira/Folhapress
O escritor João Ubaldo Ribeiro, na Flip, em 2011
O escritor João Ubaldo Ribeiro, na Flip, em 2011

CADEIRA 34 Pertencia a João Ubaldo Ribeiro, jornalista e escritor baiano, morto aos 73 anos
ELEITO EM 7/10/1993, na sucessão de Carlos Castello Branco
PATRONO Sousa Caldas (1762-1814)
PRINCIPAIS CONCORRENTES Evaldo Cabral de Mello, 78, historiador e escritor pernambucano; Thiago de Mello, 88, poeta e tradutor amazonense

Ana Carolina Fernandes - 6.nov.2003/Folhapress
O poeta Ivan Junqueira, em sua casa no Rio de Janeiro
O poeta Ivan Junqueira, em sua casa no Rio de Janeiro

CADEIRA 37 Pertencia a Ivan Junqueira, jornalista, tradutor e crítico literário carioca, morto aos 79 anos
ELEITO EM 30/3/2000, na sucessão de João Cabral de Melo Neto
PATRONO Tomás Antônio Gonzaga (1744-1807)
PRINCIPAIS CONCORRENTES Ferreira Gullar, 83, poeta, crítico, tradutor, memorialista e ensaísta maranhense

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QUEM É QUEM NA ABL

CADEIRA 1
Ana Maria Machado, 72, escritora carioca
ELEITA EM 24/4/2003, na sucessão de Evandro Lins e Silva
PATRONO Adelino Fontoura (1859-1884)

2
Tarcísio Padilha, 86, filósofo carioca
ELEITO EM 20/3/1997, na sucessão de Mário Palmério
PATRONO Álvares de Azevedo (1831-1852)

3
Carlos Heitor Cony, 88, jornalista e escritor carioca
ELEITO EM 3/3/2000, na sucessão de Herberto Sales
PATRONO Artur de Oliveira (1851-1882)

4
Carlos Nejar, 75, poeta, ficcionista, tradutor e crítico literário
ELEITO EM 24/11/1988, na sucessão de Vianna Moog
PATRONO Basílio da Gama (1740-1795)

Paula Giolito/Folhapress
O escritor e acadêmica Carlos Nejar
O escritor e acadêmica Carlos Nejar

5
José Murilo de Carvalho, 74, cientista político e historiador mineiro
ELEITO EM 11/3/2004, na sucessão de Rachel de Queiroz
PATRONO Bernardo Guimarães (1825-1884)

6
Cícero Sandroni, 79, jornalista e escritor paulista
ELEITO EM 25/9/2003, na sucessão de Raimundo Faoro
PATRONO Casimiro de Abreu (1839-1860)

7
Nelson Pereira dos Santos, 85, diretor de cinema paulista
ELEITO EM 9/3/2006 na sucessão de Sergio Corrêa da Costa
PATRONO Castro Alves (1847-1871)

8
Cleonice Berardinelli, 97, professora carioca
ELEITA EM 16/12/2009, na sucessão de Antônio Olinto
PATRONO Cláudio Manoel da Costa (1729-1789)

9
Alberto da Costa e Silva, 83, diplomata, poeta, ensaísta e historiador paulista
ELEITO EM 27/7/2000, na sucessão de Carlos Chagas Filho
PATRONO Domingos Gonçalves de Magalhães (1811-1882)

10
Rosiska Darcy de Oliveira, 70, jornalista, ensaísta e escritora carioca
ELEITA EM 11/4/2013, na sucessão de Lêdo Ivo
PATRONO Evaristo da Veiga (1799-1837)

11
Helio Jaguaribe, 91, sociólogo e cientista político carioca
ELEITO EM 3/3/2005 na sucessão de Celso Furtado
PATRONO Fagundes Varela (1841-1875)

12
Alfredo Bosi, 77, historiador paulista
ELEITO EM 20/3/2003, na sucessão de Dom Lucas Moreira Neves
PATRONO França Júnior (1838-1880)

13
Sergio Paulo Rouanet, 80, filósofo, diplomata, tradutor e ensaísta carioca
ELEITO EM 23/4/1992, na sucessão de Francisco de Assis Barbosa
PATRONO Francisco Otaviano (1825-1889)

14
Celso Lafer, 72, paulista, advogado, jurista, professor e ex-ministro das Relações Exteriores
ELEITO EM 21/7/2006, na sucessão de Miguel Reale
PATRONO Franklin Távora (1842-1888)

15
Marco Lucchesi, 50, poeta, romancista, ensaísta e tradutor carioca
ELEITO EM 3/3/2011, na sucessão de Pe. Fernando Bastos de Ávila
PATRONO Gonçalves Dias (1823-1864)

Bruno Poletti/Folhapress
A escritora Lygia Fagundes Telles, durante evento na ABL
A escritora Lygia Fagundes Telles, durante evento na ABL

16
Lygia Fagundes Telles, 91, escritora paulista
ELEITA EM 24/10/1985, na sucessão de Pedro Calmon
PATRONO Gregório de Matos (1636-1696)

17
Affonso Arinos de Mello Franco, 83, diplomata mineiro
ELEITO EM 22/7/1999, na sucessão de Antonio Houaiss
PATRONO Hipólito da Costa (1774-1823)

18
Arnaldo Niskier, 79, jornalista, professor e escritor carioca
ELEITO EM 22/3/1984, na sucessão de Peregrino Júnior
PATRONO João Francisco Lisboa (1812-1863)

19
Antonio Carlos Secchin, 62, poeta, ensaísta e crítico carioca
ELEITO EM 3/6/2004, na sucessão de Marcos Almir Madeira
PATRONO Joaquim Caetano da Silva (1810-1873)

20
Murilo Melo Filho, 85, advogado, jornalista e escritor potiguar
ELEITO EM 25/3/1999, na sucessão de Aurélio de Lyra Tavares
PATRONO Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)

Xavier Gonzalez
O escritor Paulo Coelho
O escritor Paulo Coelho

21
Paulo Coelho, 66, escritor carioca
ELEITO EM 25/7/2002 na sucessão de Roberto Campos
PATRONO Joaquim Serra (1838-1888)

22
Ivo Pitanguy, 88, cirurgião plástico mineiro
ELEITO EM 11/10/1990, na sucessão de Luís Viana Filho
PATRONO José Bonifácio (1827-1886)

23
Antônio Torres, 73, jornalista e escritor baiano
ELEITO EM 7/11/2013, na sucessão de Luiz Paulo Horta
PATRONO José de Alencar (1829-1877)

24
Sábato Magaldi, 87, crítico teatral, teatrólogo, jornalista, professor, ensaísta e historiador mineiro
ELEITO EM 8/12/1994, na sucessão de Ciro dos Anjos
PATRONO Júlio Ribeiro (1845-1890)

25
Alberto Venancio Filho, 80, advogado, jurista, professor e historiador carioca
ELEITO EM 25/7/1991, na sucessão de Afonso Arinos de Melo Franco
PATRONO Junqueira Freire (1832-1855)

26
Marcos Vilaça, 75, advogado, jornalista, professor, ensaísta e poeta pernambucano
ELEITO EM 11/4/1985, na sucessão de Mauro Mota
PATRONO Laurindo Rabelo (1826-1864)

27
Eduardo Portella, 81, crítico, professor, escritor, advogado e político baiano
ELEITO EM 19/3/1981, na sucessão de Otávio de Faria
PATRONO Maciel Monteiro (1804-1868)

28
Domício Proença Filho, 78, professor e pesquisador carioca
ELEITO EM 23/3/2006 na sucessão de Oscar Dias Corrêa
PATRONO Manuel Antônio de Almeida (1831-1861)

29
Geraldo Holanda Cavalcanti, 85, diplomata, poeta, ensaísta e tradutor pernambucano
ELEITO EM 2 /6/2010, na sucessão de José Mindlin
PATRONO Martins Pena (1815-1848)

Divulgação
A escritora Nélida Piñon
A escritora Nélida Piñon

30
Nélida Piñon, 77, escritora carioca
ELEITA EM 27/7/1989, na sucessão de Aurélio Buarque de Holanda
PATRONO Pardal Mallet (1864-1894)

31
Merval Pereira, 64, jornalista e escritor carioca
ELEITO EM 2/6/2011, na sucessão de Moacyr Scliar
PATRONO Pedro Luís (1839-1884)

33
Evanildo Bechara, professor, 86, gramático e filólogo pernambucano
ELEITO EM 1/12/2000, na sucessão de Afrânio Coutinho
PATRONO Raul Pompéia (1863-1895)

35
Candido Mendes, 86, professor, educador, advogado, sociólogo e cientista político carioca
ELEITO EM 24/8/1989, na sucessão de Celso Cunha
PATRONO Tavares Bastos (1839-1875)

36
Fernando Henrique Cardoso, 83, ex-presidente, sociólogo, cientista político, professor e escritor carioca
ELEITO EM 27/6/2013, na sucessão de João de Scantimburgo
PATRONO Teófilo Dias (1854-1889)

38
José Sarney, 84, político e escritor maranhense
ELEITO EM 17/7/1980, na sucessão de José Américo de Almeida
PATRONO Tobias Barreto (1839-1889)

39
Marco Maciel, 74, advogado, professor e político pernambucano
ELEITO EM 18/12/2003, na sucessão de Roberto Marinho
PATRONO Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878)

40
Evaristo de Moraes Filho, 100, advogado e escritor brasiliense
ELEITO EM 15/3/1984, na sucessão de Alceu Amoroso Lima
PATRONO Visconde do Rio Branco (1819-1880)


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