Folha de S. Paulo


Momento é 'rico' para experimentar novos modelos, diz jornalista

Na Argentina profundamente polarizada ideologicamente nos dias de hoje, faz-se uma divisão entre jornalistas militantes e jornalistas ligados à grande imprensa.

Os primeiros são os representantes dos meios governistas, que compõem mais de 70% da rede de TVs, jornais e rádios do país.

Os outros pertencem aos jornais tradicionais ("Clarín", "La Nación" e "Perfil"), que fazem oposição ao governo da presidente Cristina Kirchner.

Uma situação em que o jornalismo, propriamente dito, sai chamuscado e é difícil encontrar informações confiáveis em ambos os lados.

A jornalista argentina Graciela Mochkofsky, 44, que debate neste sábado (2) com o colunista do "New York Times" David Carr, é uma das profissionais da imprensa que não se conformou com a situação acima.

"Cresci e me formei numa época em que o jornalismo argentino era muito bom, com excelentes modelos que sonhávamos imitar", disse.

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A jornalista argentina Graciela Mochkofsky, 44, que se apresenta neste sábado (2/8) na Flip
A jornalista argentina Graciela Mochkofsky, 44, que se apresenta neste sábado (2/8) na Flip

"Quando cheguei ao mercado, participei de experiências históricas únicas, como integrar a redação do jornal 'Pagina12', contestador, criativo e influente. Infelizmente, o mundo mudou, e é preciso criar alternativas novas."

Após uma passagem pelo tradicional "La Nación", Mochkofsky percebeu que para fazer jornalismo independente e profissional na Argentina de hoje era preciso atuar fora dos grandes meios.

BATALHA

Desde 2008, o governo argentino promove uma batalha, por meio de pressão econômica e mudanças na legislação, contra os jornais oposicionistas. Estes, para se defender, atuam de forma enviesada editorialmente, fazendo dura oposição.

Em 2003, Mochkofsky lançou o livro que lhe deu projeção nacional. "Timerman" traça a biografia de Jacobo Timerman (1923-1999), influente jornalista, criador das revistas "Primera Plana" e "Confirmado" e do jornal "La Opinión".

Pai do atual ministro das relações exteriores do país, Jacobo foi sequestrado e torturado durante a ditadura militar (1976-1983).

Depois, veio sua obra mais importante, "Pecado Original", que traça a relação entre o "Clarín" e o poder argentino ao longo do tempo.

O livro foi criticado por ambos os lados da disputa, por mostrar como tanto o principal jornal argentino como os que ocuparam o poder na Casa Rosada relacionaram-se bem ou mal entre si de acordo com interesses econômicos, políticos ou eleitorais.

No Brasil, Mochkofsky lança "Estação Terminal", sobre o grave acidente de trem ocorrido em Buenos Aires, em fevereiro de 2012, causando a morte de 51 pessoas.

"Foi um episódio emblemático da decadência que vive a Argentina", contou.

"O sistema ferroviário sempre foi um símbolo do nosso desenvolvimento. E marcou o início da queda de popularidade deste governo. Até ali, Cristina Kirchner mantinha o capital político que ganhou com a morte do marido."

Após o acidente, as autoridades locais confundiram-se em dar respostas, culpando a própria população, enquanto Cristina refugiava-se em sua casa, na Patagônia.

Além dos livros, Mochkofsky iniciou um site de reportagens políticas, o "El Puercoespín", no qual publicou, por quatro anos, textos de grandes nomes do jornalismo latino-americano e internacional.

Nos moldes dos sites "Animal Político" (México), "El Faro" (El Salvador) e "Silla Vacía" (Colômbia), o "El Puercoespín" busca ser uma alternativa aos meios tradicionais.

Muitos desses sites recebem verba de fundações e doações, mas completam orçamento com publicidade, oficinas e edição de livros.

"Há várias opções de modelos que podem funcionar e serem rentáveis na internet. Ainda não se encontrou o ideal, mas há muita gente tentando. É um momento rico para a experimentação."


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