Folha de S. Paulo


John Neschling rege homenagem a Richard Strauss em festival

A Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo (OSM) faz sua participação no Festival de Inverno de Campos do Jordão no sábado (26) e no domingo (27). Regida por John Neschling, 67, interpretará a apoteótica "Assim Falou Zaratustra", de Richard Strauss, um dos homenageados desta edição do festival, pelos 150 anos de seu nascimento.

A obra ganhou destaque na cultura popular contemporânea após ser usada como trilha na abertura do filme "2001: Uma Odisseia no Espaço" (1968), de Stanley Kubrick.

Em entrevista por e-mail, o maestro e diretor artístico do Municipal falou sobre a apresentação, a democratização da música erudita e a popularidade das óperas.

Divulgação
O maestro John Neschling, em imagem de divulgação
O maestro John Neschling, em imagem de divulgação

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Folha - Há espaço para uma orquestra deixar sua marca numa apresentação dessas?
John Neschling - Cada orquestra tem seu DNA e cada regente imprime ao grupo sua leitura e interpretação da partitura. Isso torna cada apresentação única, o que vale para os clássicos.
Tenho especial apreço pela obra de Richard Strauss e será um prazer interpretá-la.

No comando da Osesp, o senhor estimulou compositores brasileiros contemporâneos. Por que a composição de música erudita não tem destaque?
O Brasil teve e ainda tem ótimos compositores, que precisam ser ouvidos. É uma obrigação das orquestras oferecer isso ao público. No ano passado "Jupyra" fez parte da nossa temporada lírica e, no próximo ano, apresentaremos "Um Homem Só," de Camargo Guarnieri.
Teremos ainda uma série exclusiva para a música contemporânea na Praça das Artes, com curadoria do compositor Leonardo Martinelli.
Neste ano estão em nossas programações compositores como Camargo Guarnieri, Sérgio Assad, Marisa Rezende, Francisco Mignone, Carlos Gomes, Almeida Prado, Heitor Villa-Lobos, entre muitos outros.

São 45 anos do Festival de Campos. Qual sua importância no cenário de música erudita brasileira hoje?
Ao criar o Festival, o maestro Eleazar de Carvalho (1912-1996) procurou trazer para o Brasil o modelo de Tanglewood (EUA). O festival criado se mantém como um dos mais importantes do país.

Há um alto número de obras para piano nesta edição. Como vê essa ênfase?
O repertório para piano recebeu atenção de compositores durante boa parte da história da música ocidental. Isso proporciona aos programadores e ao público uma vasta gama de opções de obras para este instrumento.

Há uma boa safra de pianistas vindo de países do Leste Europeu ou é reflexo da tradição?
Há bons pianistas vindo não somente do Leste Europeu, mas também de países como a China, onde há uma política pública de incentivo ao piano. Valentina Lisitsa (ucraniana que se apresentará nos dois concertos com a OSM) é uma excelente intérprete, com quem tive o prazer de me apresentar na Europa, e certamente fará ótimas apresentações no Brasil.

Como pensa em tornar a OSM mais atraente aos paulistanos?
Ao realizar espetáculos de excelência a preços acessíveis estamos democratizando o Theatro. A cada apresentação vejo mais e mais pessoas que nunca estiveram no Municipal. Com tantas récitas com ingressos esgotados, entendo que nossas temporadas são atraentes.

A tendência é oferecermos cada vez mais espetáculos gratuitos, como já acontece com os concertos de itinerância do Coral Paulistano Mário de Andrade e da Orquestra Experimental de Repertório nos CEUs e outros espaços culturais da cidade.

"Carmen" foi sucesso de público no Municipal, e espetáculos de ópera estão sendo exibidos em cinemas. Acredita que ópera tem mais apelo que concertos sinfônicos?
O Theatro Municipal é uma casa lírica, mas que não exclui a música sinfônica de sua programação. No ano passado, a Folha escolheu um de nossos concertos sinfônicos como o melhor do ano, o que nos deixou muito satisfeitos. A ópera é muito popular e tem em São Paulo uma história de tradição, principalmente pela imigração italiana. Assim como fiz nos 12 anos em que reestruturei a Osesp, entendo que precisamos oferecer ao público espetáculos de qualidade. O sucesso de bilheteria sinaliza que estamos no caminho certo.

OSM E VALENTINA LISITSA
QUANDO: sáb., às 20h, dom., às 16h
ONDE: sáb., Theatro Municipal, pça. Ramos de Azevedo, s/nº, São Paulo; dom., Auditório Claudio Santoro, av. Dr. Arrobas Martins, 1.800, Campos do Jordão
QUANTO: sáb., de R$ 20 a R$ 60 pelo site compreingressos.com, tel. (11) 2626-0857 ou bilheteria; dom., R$ 80, pelo site
ingressorapido.com.br, tel. (11) 4003-1212 ou bilheteria
CLASSIFICAÇÃO: 10 anos


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