Folha de S. Paulo


Com muita procura, Sesc de SP exclui categoria usuário

O Sesc (Serviço Social do Comércio) do Estado de São Paulo decidiu neste mês excluir a categoria usuário, que dava descontos de até 50% em espetáculos e servia como cadastro para atividades oferecidas pela entidade.

Desde 3 de julho é impossível inscrever-se na modalidade, conseguir a carteirinha, e também renová-la. Hoje, mais de 180 mil pessoas no Estado fazem parte desse grupo, o que representa 9,5% do total de frequentadores regulares.

A mudança, que não está sendo divulgada no site do Sesc, é informada apenas em suas unidades, na tentativa de matrícula ou renovação da carteirinha.

Segundo a instituição, o motivo da alteração é a crescente procura pelos serviços, muito acima da oferta de vagas. Nos 19 pontos da entidade na capital paulista as filas e disputas por ingressos são recorrentes.

O número de pessoas que passam pelas 34 unidades estaduais semanalmente teria subido de 350 mil para 450 mil entre 2013 e este ano.

Para o diretor em exercício do Departamento Regional do Sesc, Luiz Galina, o preço das atividades, muito menor do que em outros espaços culturais, é o principal atrativo.

"Trazemos bons shows por um valor mais baixo. O Gilberto Gil tocou aqui e as entradas custaram R$ 20, R$ 30; em outro teatro saiu por R$ 200."

"Mas não estamos dando conta de atender o comerciário, que é nossa prioridade", disse.

Os empregados do setor não são afetados pela mudança e continuarão na modalidade "comerciários", com os mesmos benefícios. Mais de 1,9 milhão de pessoas fazem parte da categoria.

As empresas de comércio e serviços são obrigadas a contribuir com a entidade, por meio de um percentual pré-fixado sobre a folha de salários dos trabalhadores.

A cobrança é feita pelo Instituto de Previdência Social do Estado e repassada para a gestão e administração do Sesc.

Lalo de Almeida/Folhapress
Piscina do Sesc Pinheiros
Piscina do Sesc Pinheiros

ATIVIDADES

Galina frisa que a exclusão da carteira de usuário não restringe o acesso às atividades. Quem faz um curso de natação, por exemplo, vai continuar frequentando às aulas. O que pode mudar, diz, é a forma como novos alunos –sem a carteirinha– deverão se inscrever no curso, e quanto vão pagar por eles.

"Não posso garantir que a meia-entrada para quem é "usuário" vai valer. Estamos reestudando as políticas de preços, como fazemos periodicamente", diz o diretor.

Segundo Galina, as faixas de preços podem ser alteradas em breve.

Sobre os cursos, o diretor afirma que qualquer pessoa poderá tentar uma vaga, desde que elas não tenham sido preenchidas por comerciários.

SURPRESAS

Alguns processos que mudam com o fim da categoria ainda não foram definidos, causando confusão na hora de repassar informações aos frequentadores.

O biólogo e empresário Ely Reibscheid, 42, só soube da restrição ao apresentar o exame médico no Sesc Pinheiros, em São Paulo, para usar a piscina do local.

Ele não faz aulas de natação, mas, há cinco anos, paga a matrícula e os exames para realizar sua rotina de exercícios.

Na unidade, foi informado que, com a mudança, não poderia nadar se não fizesse aula.

"Me foi passado que não posso mais usar. Há total falta de orientação", disse.

A assessoria do Sesc não soube dizer se essa restrição existe, já que alguns procedimentos estão indefinidos.

Sobre o atendimento dos funcionários informou que as equipes "têm sido reforçadas no sentido do acolhimento do público e os questionamentos recebidos pelos canais de comunicação do Sesc têm sido respondidos".

Reibscheid chama de "absurda" a decisão e diz que pessoas já se mobilizam em redes sociais para criticá-la e tentar revertê-la.

CRÍTICAS

No Facebook, a reportagem encontrou apenas um grupo fechado, com 184 membros, chamado "Contra a nova prática do Sesc: exclusão da categoria 'usuário'".

No site Reclame Aqui, ao menos 35 queixas foram postadas neste mês.

Para a artista Ana Dupas, frequentadora da unidade da Consolação, em São Paulo, há oito anos, as críticas à mudança no Sesc são fruto da carência de atividades culturais acessíveis.

"A gente não estaria reclamando se houvesse uma estrutura pública decente de serviços culturais."

Dupas diz que vê na programação e nos valores mais baixos uma "gestão mais inteligente" dos recursos.

O professor do departamento de sociologia da USP, Ricardo Musse, diz que, tradicionalmente, o Sesc preenche uma função de centro cultural em São Paulo, suprindo a falta de outros espaços.

"É uma referência que se construiu na cidade. Mais acessível para todos os públicos."


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