Folha de S. Paulo


Mostra conta a vida do designer Aloísio Magalhães

A capital ainda não tinha sido inaugurada quando o pernambucano Aloísio Magalhães (1927-1982) lançou o seu "Doorway to Brasília" (porta de entrada para Brasília), em 1959. Foi o primeiro livro sobre a cidade e uma das experiências gráficas mais radicais da história editorial do país até aquele momento.

Partindo de fotos de prédios, de operários nas obras e da natureza do cerrado, Magalhães e o gravador e professor americano Eugene Feldman experimentaram alterações de cores, contrastes e closes e fizeram uma impressão panorâmica inédita, pelo formato e pela tiragem, de 2.000 exemplares.

O livro, com textos de John dos Passos, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, marcou também um momento importante da vida de Magalhães.

Pintor com destaque dentro e fora do Brasil, prêmios e participações em bienais de São Paulo, Magalhães estava se distanciando da pintura e começando a se dedicar ao mundo do design.
Fundou em 1960, no Rio, o que viria a ser o maior escritório de design gráfico do país por mais de duas décadas.

Assinou projetos como os logotipos da Fundação Bienal de São Paulo, da Light, do sesquicentenário do Rio e o desenho das notas de cruzeiro, entre outros.

A ocupação Aloísio Magalhães, que fica no Itaú Cultural até 24 de agosto, mostra suas três facetas: pintor, designer gráfico e articulador cultural. A curadoria é do designer e professor João de Souza Leite. "É o registro da trajetória do Aloísio, culminado com sua posição em cargos da gestão cultural", diz.

"Mostramos desenhos e aquarelas nunca exibidos em tamanha diversidade", diz o curador. Entre as criações gráficas, constam também exemplares dos livros editados pelo histórico grupo O Gráfico Amador, do Recife.

O Gráfico Amador reunia interessados na arte do livro. Fundado em 1954, editou com primor gráfico, até 1961, cerca de 30 livros com projetos de Magalhães, Gastão de Holanda, José Laurenio de Melo e Orlando da Costa Ferreira. A prensa usada foi trazida da Espanha pelo poeta João Cabral de Melo Neto, primo de Magalhães.

Também estarão expostos cartemas -composições que partiam de cartões-postais.

Apaixonado por padrões de repetições, Magalhães justapunha imagens de modo que as formas originais se perdessem, "como um mestre ladrilheiro", observa Leite.

A projeção de um cartema criará um ambiente visual imersivo. O nome "cartema", aliás, foi criado por Antônio Houaiss para batizar o invento de Magalhães, a quem considerava bibliólogo (com saber ligado ao livro como objeto e vetor de cultura), bibliófilo (amigo do livro) e bibliósofo (sábio em coisas de livro).

Magalhães fundou, em 1975, o CNRC (Centro Nacional de Referências Culturais), instituição que se propunha a mapear e documentar as referências culturais brasileiras.

"Ele se perguntava como se poderia construir um país com caráter sem ter consciência do passado", diz Leite.

Fora da estrutura governamental, o CNRC tinha um quadro de consultores de várias áreas que apoiava projetos de pesquisa em design. Um desses projetos foi sobre a tecelagem popular do Triângulo Mineiro, com a documentação fotográfica de todos os tipos de tramas dos fios praticados por pequenas unidades desde o Império.

Outro projeto, muito caro a Magalhães, foi um estudo multidisciplinar sobre o caju, envolvendo desde a iconografia, com as pinturas dos viajantes holandeses, até a utilização industrial da fruta. "Ele achava o cúmulo que a Índia tivesse seis vezes mais patentes sobre o caju que o Brasil", conta o curador.

As atribuições de articulador cultural incluíram a participação na fundação da Escola Superior de Desenho Industrial, onde foi professor; a direção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; a presidência da Fundação Nacional Pró-Memória e a Secretaria da Cultura do Ministério da Educação e Cultura, em 1981.

A ocupação estará na agenda, como evento paralelo, do congresso da Alliance Graphique Internationale, uma das maiores associações de designers, que ocorre em São Paulo em 18 e 19 de agosto.

OCUPAÇÃO ALOÍSIO MAGALHÃES
QUANDO de ter. a sex., das 9h às 20h; sáb. e dom., das 11h às 20h; até 24/8
ONDE Itaú Cultural, av. Paulista, 149, tel. (11) 2168-1776
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre


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