Folha de S. Paulo


'Chicó fui eu, Chicó é tu', escreve Selton Mello sobre Suassuna

Assim como o ator Matheus Nachtergaele, que interpretou João Grilo na adaptação de "O Auto da Compadecida" para o cinema e para a TV, seu colega Selton Mello, que viveu o personagem Chicó, também escreveu um texto em homenagem a Ariano Suassuna.

O escritor e dramaturgo paraibano morreu nesta quarta-feira (23), aos 87 anos, em decorrência de um AVC hemorrágico.

Escrito em 1955, o "Auto" é um dos trabalhos mais conhecidos de Ariano Suassuna e mostra a cultura e espiritualidade nordestinas. Com a obra, Ariano Suassuna ganhou notoriedade e estabeleceu um marco no teatro nacional.

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E o Brasil ficou mais pobre.

E triste.

Ariano, poeta entendedor do Brasil profundo.

Defensor de nossa riqueza cultural e emocional.

Sua obra descomunal fica para sempre.

Tive a honraria graúda de dar vida a um de seus passarinhos (era como se referia a seus personagens queridos).

Chicó fui eu, Chicó é Ariano, Chicó é tu.

Chicó e João Grilo têm morada no coração dos brasileiros.

E na minha mente e coração sempre estarão gravadas as palavras sublimes que proferi em "O Auto da Compadecida":

"Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados".

Celebre-se o homem, celebre-se o brasileiro, celebre-se o artesão das palavras.

E se um dia perguntarem se tudo que criou foi exatamente assim como ele idealizou, imaginarei Ariano dizendo com um sorriso de menino nos lábios " Não sei, só sei que foi assim."

SELTON MELLO é ator e cineasta


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