Ainda dá tempo de ver "Miranda Canta Miranda". O espetáculo musical que atualiza canções de Carmen Miranda fica em cartaz até este domingo (27) em São Paulo.
A atriz Stella Miranda canta 22 músicas do repertório da cantora que imortalizou os mais importantes compositores brasileiros de seu tempo, como Ary Barroso e Lamartine Babo, e exportou brasilidade nos anos 1930 e 1940.
Com quatro atores/cantores e três músicos, a atriz carioca aventura-se no palco em arranjos modernos de canções menos conhecidas de Carmen Miranda, como "Paris" e "Good-bye, Boy".
| Lenise Pinheiro - 11.jul.2014/Folhapress | ||
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| Stella Miranda como Carmen Miranda ao lado de Will Anderson (à esq.) e Luciano Andrey |
O espetáculo também surpreende com sucessos da pequena notável. É o caso da versão em rap de "Disseram que Voltei Americanizada", entre outras músicas rearranjadas pelo diretor musical Tim Rescala, vencedor do prêmio Shell de 2010 por seu trabalho na peça.
Além de cantar, Stella repassa em cena a trajetória de Carmen Miranda enquanto conta um pouco da sua própria vida. "Busco, modestamente, o que as Mirandas podem ter de semelhante."
Segundo conta, ambas viveram paradoxos. Ela explica que, por trás de toda a alegria que Carmen emanava, ninguém imaginava suas dificuldades. "Carmen não mostrava sua tristeza. Foi explorada pelo marido e transformada numa caricatura de si mesma", diz.
O paradoxo de Stella também se dá entre sua figura pública e privada. "Estava péssima, saindo de um buraco, quando fui mostrar a exuberância de Carmen no palco."
Inicialmente, Stella Miranda bateu o telefone na cara de Miguel Falabella quando ele a convidou para viver Carmen Miranda no musical "South American Way", no final dos anos 1990. Não por falta de desejo.
DESEJO DE CRIANÇA
Desde pequena, a atriz carioca, que por pura coincidência tem o mesmo sobrenome, desejava interpretar Carmen Miranda nos palcos. A saúde se impunha, porém, como obstáculo.
Stella estava internada em um hospital para tratar um câncer quando foi surpreendida pelo convite de Falabella. "Achava que ia morrer, mas Carmen me salvou", diz.
Em vez da grandiosidade de "South American Way", espetáculo que Stella protagonizou há mais de dez anos, em "Miranda Canta Miranda" ela agora trafega pelo caminho da essencialidade.
"A abordagem é completamente diferente. Trata-se de um musical de câmara. Optei por contar a vida de Carmen de forma estilizada", explica.
Um telão contextualiza o repertório apresentado, como quando exibe imagens de Paris e do Rio do início do século 20 acompanhando o refrão de "Paris": "Paris, Paris, je t'aime, mas eu gosto muito mais do Leme".
Uma projeção também ilustra a canção "Uva de Caminhão", apresentando um vídeo sobre um romance entre uma mulata e um caminhoneiro vendedor de uvas, o que atrapalha a poesia da música de Carmen.
Stella não cansa de exaltar Carmen Miranda, no palco e fora dele. "Sua vida e obra oferecem materiais que me fazem querer homenageá-la para o resto da vida."