Folha de S. Paulo


Mostras e filme abrem 'diários' de Leonilson

O artista cearense José Leonilson Bezerra Dias (1957-1993) é tema de duas mostras em São Paulo —uma "intimista", outra grandiosa— e de um documentário em finalização.

Na terça (22), será inaugurada a mostra "Verdades e Mentiras", na galeria Superfície, com 23 desenhos e pinturas e três esculturas em bronze do artista.

A grande exposição "Leonilson: Truth, Fiction", abre no dia 9 de agosto, na Pinacoteca de São Paulo. Estarão expostas mais de 150 obras, com foco nos trabalhos realizados a partir de 1987.

Já o documentário sobre o artista, dirigido pelo cineasta paulista Carlos Nader, não tem data de lançamento. O diretor diz que também não sabe ainda qual será o nome do filme que, por enquanto, está sendo chamado com o mesmo título da mostra da pinacoteca.

A coincidência dos nomes das três iniciativas não é por acaso. As palavras estão em um desenho de 1990 de Leonilson. Com o título "Favorite Game" (brincadeira favorita), a obra mostra a figura de um homem em pé entre as palavras "truth" (verdade) e "fiction" (ficção ou mentira).

Isso reflete a característica mais marcante do trabalho de Leonilson, que criava suas obras como se estivesse escrevendo páginas de um diário íntimo e inventava novas realidades com sua arte.

"O Léo ficava encantado quando descobria que algo era mentira. Daí transformava isso em verdade ao criar. A síntese das coisas que via durante o dia e de seu estado emocional é que era o real", diz a artista Leda Catunda, que conviveu com Leonilson desde o início dos anos 1980.

Ela foi chamada para escrever o texto e montar a exposição da galeria Superfície, mas não considera o trabalho exatamente uma curadoria.

"Tínhamos algumas obras, juntamos outras e montamos a exposição com o que conseguimos emprestado", diz Gustavo Nóbrega, proprietário da galeria. A mostra, com foco nos desenhos e pinturas, criou um recorte dos "diários" do artista menos exibido, o do início dos anos 1980, segundo Catunda.

"Em seus últimos anos de vida, Leonilson queria fazer a síntese de seu trabalho. Por isso, a maioria das mostras se concentra nessa fase e acaba deixando de lado parte da década de 1980, um período bacana de sua carreira", afirma Catunda.

Leonilson foi diagnosticado como HIV positivo em 1991 e morreu dois anos depois em decorrência da Aids, aos 36.

O jogo entre confessar e esconder também está no filme de Nader, que considera o longa uma "parceria póstuma". Ele é todo narrado em off por Leonilson, que deixou uma série de fitas gravadas como se fossem um diário.

O diretor afirma que, nas fitas, Leonilson cria um personagem para falar de si e do mundo. Não é pura ficção, nem pura realidade.

"Ele gravou essas fitas como matéria-prima para um trabalho, tinha um projeto literário", diz Nader.

O cineasta já havia feito um média-metragem sobre o artista com depoimentos de várias pessoas. No longa, a única voz é a de Leonilson.

Não haverá movimento de câmara, só imagens estáticas de cenas de época (a Guerra do Golfo, o impeachment de Collor) e das obras.

"O que importa afinal é a obra, não a 'fetichização' do artista", diz o cineasta.

VERDADES E MENTIRAS
QUANDO abre terça, 22; de seg. a sex, das 10h às 19h, sáb., das 11h às 17h. Até 30/8
ONDE Galeria Superfície, r. Oscar Freire, 240, tel. (11) 3062-3576
QUANTO grátis

LEONILSON: TRUTH, FICTION
QUANDO abre 9/8; de ter. a dom., das 10h às 17h30; qui. até 22h; até 9/11
ONDE Pinacoteca, pça. da Luz, 2, tel. (11) 3324-1000
QUANTO de R$ 3 a R$ 6; grátis aos sáb. e às qui., após as 17h


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