Folha de S. Paulo


Crítica: Mostra de Palatnik contradiz artista ao exibir obras estáticas

É absolutamente contraditório que uma retrospectiva dedicada a um artista cinético seja tão estática como ocorre com "Abraham Palatnik - A Reinvenção da Pintura", em cartaz no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Com curadoria de Felipe Scovino e Pieter Tjabbes, a mostra apresenta cerca de cem obras com as principais séries de Palatnik, incluindo os Aparelhos Cinecromáticos.

Criados no início da década de 1950, esses aparelhos levaram o brasileiro a ser considerado um dos precursores da chamada arte cinética, que incorporou a ideia de movimento na realização das obras.

Na 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, um dos trabalhos era tão original que chegou a ser recusado por não se encaixar nos gêneros tradicionais como pintura ou escultura.

No entanto, graças à ausência de alguns artistas que viriam para a mostra, a obra acabou sendo admitida e ainda ganhou uma menção honrosa do júri internacional.

No MAM, a maior parte das peças em exposição criadas para proporcionar algum tipo de movimento -como os Aparelhos Cinecromáticos, nos quais luzes se movem, ou os Objetos Cinéticos, nos quais pequenos objetos de arame se mexem- está estática e nem sequer pode ser acionada pelos visitantes. O público não pode nem circular próximo aos móveis criados pelo artista na fábrica Arte Viva, que fundou com seu irmão.

Isso se justifica, de acordo com os avisos fixados nas paredes do museu, "por motivos de conservação". As obras funcionam com temporizadores, seguindo a proporção de 20 minutos de atividade para 60 minutos de repouso.

Peças frágeis demandam cuidado e a curadoria optou pela forma mais segura. No entanto, o zelo tornou a mostra apática, já que o movimento das obras ocorre de forma esporádica e sem a manipulação do espectador.

Uma opção seria o uso de réplicas, como aconteceu na retrospectiva recente de Lygia Clark no MoMA, em NY.

Mesmo outras séries de Palatnik que não demandam este tipo de cuidado com a conservação também ganham uma expografia convencional.Como os Relevos Progressivos, compostos por camadas de madeira, cartão ou metal, dispostas para criar uma dinâmica de movimento.

A montagem de toda a exposição é feita sob paredes cinzas, o que faz com que o colorido das peças seja rebaixado pelo tom sombrio.

Não há dúvida de que é preciso saber preservar obras de caráter histórico e evitar sua espetacularização. Mas uma mostra precisa elevar o trabalho de um artista à sua máxima potência e não trair suas questões centrais.

ABRAHAM PALATNIK - A REINVENÇÃO DA PINTURA
QUANDO de ter. a dom., das 10h às 18h; até 15/8
ONDE MAM, av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3 do parque Ibirapuera; tel. (11) 5085-1300
QUANTO R$ 6
AVALIAÇÃO regular


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