Folha de S. Paulo


Gravadoras indie enfrentam batalha contra o YouTube

Recentemente, aconteceu em Nova York a entrega dos prêmios Libera, algo como um Grammy alternativo. Grupos indies de prestígio como Arcade Fire e Arctic Monkeys receberam prêmios, e executivos de selos pequenos parabenizaram uns aos outros.

Apesar do ambiente festivo, a ansiedade em torno da igualdade de oportunidades no mercado digital é profunda no setor de música independente. Os selos pequenos dizem que a consolidação de grandes gravadoras reduz sua possibilidade de manobras em negociações com serviços de música on-line, hoje responsáveis pela maior parte de sua receita.

Os selos indies dizem que são vulneráveis às táticas intransigentes de gigantes da internet como o YouTube, que ameaçou bloquear os vídeos de alguns selos se estes não assinarem novos acordos de licenciamento. A disputa cristalizou o medo de que o acesso ao mercado on-line tenha se tornado um privilégio de empresas maiores e mais ricas.

"No crescimento da internet, previa-se um nivelamento utópico das condições, uma democratização para todos, mas o que está acontecendo na realidade é uma espécie de apartheid cultural", comentou Alison Wenham, do Worldwide Independent Network, grupo de selos pequenos.

A batalha do YouTube envolve um esforço do site para desenvolver uma versão paga para competir com serviços de música como Spotify e Beats Music. Divisão do Google, o YouTube já fechou acordos de licenciamento com os três maiores selos mundiais —Universal, Sony e Warner—, mas os debates com os selos independentes estão paralisados.

O YouTube estaria ameaçando bloquear vídeos dos canais oficiais dos selos indies. Os vídeos carregados por usuários continuariam no site, mas não renderiam receita publicitária. De acordo com a Associação da Indústria Gravadora da América, que representa os grandes selos, o YouTube e outros serviços apoiados por publicidade geraram uma receita de US$ 220 milhões para o setor musical no ano passado. Já as vendas de downloads totalizaram US$ 2,8 bilhões.

Uma das principais queixas dos selos independentes diz respeito ao cálculo de participação no mercado. De acordo com Darius Van Arman, cofundador de um selo musical independente, e Richard Bengloff, da Associação Americana de Música Independente, os grandes selos exageram sua participação no mercado, contabilizando não apenas as gravações que são sua propriedade, mas também as que elas distribuem e que pertencem a selos independentes. Os grandes selos possuem subsidiárias de distribuição que trabalham com centenas de independentes, fato que gera uma área cinzenta sobre a qual tanto os grandes selos quanto os independentes reivindicam o controle.

A participação de mercado é importante nas negociações com serviços digitais sobre termos de licenciamento, e os selos independentes dizem que a participação inflada dos grandes selos lhes permite exigir royalties e adiantamentos maiores. Esses pagamentos podem não estar acessíveis aos selos independentes, ou então são muito mais baixos.

Mas o mercado digital favorece o crescimento dos selos independentes, sob alguns aspectos. A música independente tende a se sair melhor hoje do que quando o mercado era dominado por lojas físicas, época em que os custos de divulgação representavam uma barreira maior.

Recentemente, dezenas de apoiadores do grupo de defesa dos artistas Coalizão de Criadores de Conteúdo montaram um piquete diante da sede do Google em Nova York, com cartazes que diziam: "O que o You Tube paga? Nada". O guitarrista Marc Ribot resumiu o conflito: "Se não conseguimos ganhar o suficiente com a mídia digital para pagar pelo disco que acabamos de fazer, não podemos fazer outro".


Endereço da página: