Folha de S. Paulo


Museu quer restaurar Lasar Segall carnavalesco

Lasar Segall já teve seus dias de carnavalesco. Dois imensos painéis criados pelo artista para decorar os bailes de Carnaval da Sociedade Pró-Arte Moderna em 1933, hoje quase esquecidos, vão sair do depósito em breve.

Essas obras raras de Segall, morto aos 66 em 1957, são pinturas em guache sobre papel que serviram de cenografia para as festas do grupo que reuniu a elite paulistana em torno da arte nos anos 1930.

Mais de 80 anos depois de sua criação, partes de "O Circo", com sete metros de altura, e de "Jardim Zoológico", painel de quatro metros de extensão, serão expostos em agosto no Salão de Arte da Hebraica, em São Paulo.

Esse será o primeiro passo para um longo processo de restauro das peças guardadas no Museu Lasar Segall, que agora tenta captar R$ 5 milhões em recursos incentivados para recuperar as obras.

Jorge Schwartz, diretor da instituição, adiantou à Folha que sua ideia é fazer algo nos mesmos moldes do projeto envolvendo os painéis "Guerra" e "Paz", de Candido Portinari, restaurados num ateliê aberto ao público no Rio.

Mas o desafio, no caso da obra de Segall, parece mais complexo. Talvez por não terem sido pensados como obra e mais como cenografia efêmera, os painéis do artista lituano venham se deteriorando em ritmo mais acelerado.

Um dos problemas é que quando foram montados pela última vez, há mais de 20 anos, os fragmentos de papel dos painéis foram colados sobre chapas de aglomerado de madeira, um material frágil e de alta acidez, que provocou o esfacelamento das folhas.

"Esse material quebra e dá muitos problemas", diz Pierina Camargo, museóloga do Lasar Segall. "A gente mantém da melhor maneira possível, mas é tudo muito inadequado, frágil e poroso."

Do "Jardim Zoológico", dividido em 30 módulos, só restaram as laterais. No "Circo", que ainda tem todas as suas 36 partes, os papéis estão se esfarelando e já perderam algumas das camadas de tinta.

Há ainda 61 desenhos criados para os bailes e telas avulsas, que integravam a cenografia, como uma em que retratou um casal dançando vestindo máscaras de cavalo.

"As peças sobre papel precisam ser descoladas das placas de madeira, retocadas e depois coladas de novo", explica Schwartz. "Também há pedaços que estão faltando."

BALÉ E CIRCO

Quando restauradas, essas alegorias cheias de bailarinas, palhaços, acrobatas e elefantes também vão ajudar a resgatar partes desbotadas da história da arte na cidade.

Embora tenha durado só dois anos, a Sociedade Pró-Arte Moderna, ou Spam, como era conhecida, arregimentou grandes intelectuais da época, como Mário de Andrade e Gregori Warchavchik, para apoiar as artes visuais.

Segall, que ajudava a organizar as festas de Carnaval de Dresden, na Alemanha, acabou sendo escalado para ambientar os bailes paulistanos. Suas alegorias para a Spam, aliás, estavam em sintonia com o expressionismo, então em voga na Europa.

"Elas são ancoradas na tradição das cenografias dos balés russos", diz Schwartz. "Há muitos elementos primitivos, de inspiração africana, e também do circo. As vanguardas históricas frequentaram o circo. Era um tema para a elite."


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