Folha de S. Paulo


Poemas de Gregório de Matos acompanham hierarquia colonial

Diferentemente de outras edições, a Coleção Gregório de Matos evita extrair e reagrupar os poemas. "Mantivemos a disposição tal como foi pensada no século 18", diz Marcello Moreira.

Pela ordem, vêm primeiro os poemas com "louvores e vitupérios à nobreza". Depois, "louvores e vitupérios aos agentes da Igreja Católica, clérigos, freiras".

Por fim, os poemas "dedicados às mulheres, algumas de qualidade, outras, não". Entram aí "as putas da Bahia, que merecem castigo, a Babu, a Andresona".

Reprodução
Ilustração de manuscrito do séc. 18 que reuniu poemas de Gregório de Matos, supostamente
Ilustração de manuscrito do séc. 18 que reuniu poemas de Gregório de Matos, supostamente

Uma passagem: "Puta Andresona [...] Tu te finges não ser senão honrada,/ E nunca eu vi mentira mais provada [...] Entram na tua casa a seus contratos/ Frades, Sargentos, Pajens, e Mulatos,/ Porque é tua vileza tão notória,/ Que entre os homens não achas mais que escória".

A sequência dos poemas "faz uma encenação de toda a hierarquia" colonial, diz João Adolfo Hansen, questionando edições contemporâneas que recortam e alteram a ordem, como a de James Amado (Record, 1990).

"Ele escreveu texto dizendo que Caetano Veloso era cavalo do exu Gregório", critica. "Vi na Bahia o movimento negro dizendo que Gregório era abolicionista."

O quinto volume da coleção traz um longo ensaio de Hansen e Moreira, em que detalham não só as opções da edição, mas as diferenças com a crítica literária hoje predominante sobre Gregório de Matos e Guerra. (NS)

COLEÇÃO GREGÓRIO DE MATOS
EDIÇÃO E ESTUDO João Adolfo Hansen e Marcello Moreira
EDITORA Autêntica
QUANTO Entre R$ 43 e R$ 49 por volume (entre 400 e 592 págs. por volume)


Endereço da página: