Folha de S. Paulo


Editoras independentes apostam em tiragens reduzidas e fotolivros

No lugar de tiragens robustas, que dificilmente se esgotam, editoras independentes começam a investir em publicações com número muito reduzido de exemplares.

Em janeiro, as paulistanas Ivy Folha, 32, e Bianca Muto, 25, fundaram a editora Pingado-Prés, que lançou títulos de 40 cópias, como "Autotomy", da pernambucana Adelaide Ivánova, e "Amulet World", com retratos do tailandês Miti Ruangkritya.

"Ninguém nos conhecia, e a curadoria foi feita a partir do nosso gosto pessoal. Não podíamos arriscar em grandes quantidades", diz Ivy.

Daigo Oliva/Folhapress
Reprodução do livro 'Minotauro', de Isadora Brant, Martina Brant, Luiza Sigulem e Juliana Nadin
Reprodução do livro 'Minotauro', de Isadora Brant, Martina Brant, Luiza Sigulem e Juliana Nadin

No momento, a dupla prepara "Do Que é Objeto", primeiro fotolivro do paulista Breno Rotatori. Segundo o fotógrafo, uma produção com acabamento difícil de ser realizado em grande escala torna ideal o número
diminuto de cópias. "Penso em tiragens pequenas para que o trabalho manual tenha espaço".

O argumento de Rotatori é reforçado por Guilherme Falcão, 30, que em 2013 fundou a editora Contra. "Mesmo para obras de grande escala, um acabamento fino custa caro", afirma. Mas ele relativiza. "O cuidado manual faz diferença, mas, muitas vezes , é falta de grana. Não é porque é artesanal que é melhor".

Falcão já editou quatro fotolivros com tiragens de 50 cópias e preço médio de R$ 20. Para viabilizar a venda, ele diz contar com três caminhos: lojas on-line, uma loja física especializada em publicações independentes —a Tijuana, dentro da galeria Vermelho— e eventos como a Feira Plana e a Pão de Forma.

Há três meses, a segunda edição da Feira Plana, no MIS, em São Paulo, reuniu 150 expositores e recebeu cerca de 15 mil pessoas, segundo estimativa do museu.

Para Bia Bittencourt, 29, criadora do evento e editora de vídeo da TV Folha, o sucesso da mostra se deve ao contato direto com o público. "Tem o impulso do momento. Muita gente junta, comprando loucamente. Você vai lá e compra também".

Raquel Gontijo, 35, organizadora da feira Pão de Forma, no Rio, afirma que "público está de saco cheio dessa distância de quem produz" e vê uma reação ao mercado editorial. "Se você coloca uma publicação independente numa livraria grande, eles vão querer consignar o produto e pegar 50% do preço final."

Miguel Del Castillo, 27, editor da Cosac Naify, pondera as críticas. "Quando uma editora chega nas livrarias com uma quantidade grande de títulos, talvez tenha mais chances. Mas é um espaço que pode ser cavado, e as feiras mostram que existe mercado."

Divulgação
Páginas de 'Exercícios de Desaparecimento', fotolivro de Haroldo Saboia, lançado pela editora Contra
Páginas de 'Exercícios de Desaparecimento', fotolivro de Haroldo Saboia, lançado pela editora Contra

Mas organizadores de feiras e editores afirmam que o sucesso de público ainda não se converteu em lucro. "Sobra zero para mim", diz Bia.

"Ninguém faz 'zine' para ganhar dinheiro. E uma publicação mais sofisticada, sai mais caro também", diz Isadora Brant, fotógrafa da TV Folha. Com a irmã, a designer Martina, e as fotógrafas Juliana Nadin e Luiza Sigulem, ela criou o coletivo Vibrant, que lançou oito obras, todas com tiragens de 50 cópias.

"Custos de matéria-prima são caros. As publicações que já fizemos variaram bastante, de R$ 7 a R$ 40, explica Ivy, da Pingado.

Mas há casos de lançamentos gratuitos. A editora Criatura, do geólogo Andrei Dignart, 34, e da jornalista Elisa Freitas, 30, distribuiu cem cópias do fanzine "Influeza #1" sem cobrar nada. A publicação mistura fotos dos dois autores com imagens do começo do século 20 do norueguês Paul Stang.


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