Folha de S. Paulo


Crítica: Curadores registram no papel o melhor da arte brasileira atual

Encomendado pela Abact, a Associação Brasileira de Arte Contemporânea, que reúne 46 galerias do país, o livro "ABC Arte Contemporânea Brasileira" foi um projeto polêmico. Alguns galeristas não se sentiram representados na seleção de Adriano Pedrosa e Luisa Duarte, organizadores da publicação.

Isso fez a própria Abact, que conseguiu o patrocínio, abandonar o projeto. Mas, após tanto debate, o que resta?

"ABC" é, sem dúvida, o melhor compêndio já editado sobre a produção nacional, mas a qualidade se deve à ausência de similares, o que não desmerece o livro.

Como muitas outras publicações no exterior, como a série "Cream", da editora Phaidon, "ABC" é uma espécie de exposição em papel, na qual um grupo de curadores elege um time de artistas.

Divulgação
"Autobang" (2002), instalação do coletivo Chelpa Ferro apresentada na 27ª Bienal de SP

No caso da nova publicação, são 86 artistas escolhidos por 12 curadores, dez brasileiros, como Lisette Lagnado e Moacir dos Anjos, e dois estrangeiros, Gerardo Mosquera e Julieta González.

Na seleção dos contemporâneos, há um único princípio: artistas que nasceram após 1960. A organização do livro respeita essa ordem, indo de Beatriz Milhazes, a mais velha do grupo, a Deyson Gilbert, nascido em 1985.

Alguns artistas são vistos em seis páginas, outros em quatro, e os demais em duas, um critério não muito igualitário e que os separa por importância, segundos os organizadores: Milhazes, por exemplo, tem seis, Lucia Koch, quatro, e Gilbert, duas.

Livro
ABC - Arte Brasileira Contemporânea
Adriano Pedrosa e Luisa Duarte
Abc - Arte Brasileira Contemporânea
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Contudo, o mais estranho mesmo é a inclusão de artistas estrangeiros, uma espécie de reafirmação da tese de Pedrosa no Panorama da Arte Brasileira, organizado por ele no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2009.

Naquele ano, Pedrosa selecionou apenas estrangeiros, com exceção de Tamar Guimarães, que vive no exterior. Fazia sentido, então, problematizar o que é arte brasileira.

Agora, a proposta chega esvaziada. Afinal, o que artistas como o argentino Jorge Macchi e o cubano Carlos Garaicoa mais têm em comum com os brasileiros são as galerias que os representam.

Mesmo assim, a seleção é representativa e, ao incluir uma pequena entrevista com cada artista, o livro dá uma ótima introdução a quem quer conhecer a atual da cena contemporânea.

Outro ponto positivo é a transcrição de uma troca de mensagens entre os curadores, que aponta alguns dos dilemas dessa cena. Entre eles, o próprio livro.

ABC - ARTE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA
ORGANIZADORES Adriano Pedrosa e Luisa Duarte
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 90 (400 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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