Folha de S. Paulo


Com mais conteúdo, narração esportiva na TV muda de estilo

Se o futebol brasileiro tem uma voz, hoje, é a de Galvão Bueno, 63, narrador e comentarista folclórico das transmissões dos jogos mais importantes da TV Globo.

Seu reinado de 40 anos (33 deles na emissora carioca), contudo, pode terminar em breve. Na África do Sul (2010), com voz de choro, ele anunciara que aquela seria sua última Copa fora do país.

No ano passado, voltou atrás e agora diz à Folha: "Amo o que faço. Enquanto tiver saúde, e a Globo achar importante, vou continuar. Tenho contrato até 2019".

Ainda assim, fica a pergunta: quem poderá substituí-lo?

Uma enquete com 16 profissionais ligados ao esporte mostrou que a sucessão de Galvão Bueno é um tema saia-justa: a maioria prefere não se comprometer e não apontar candidatos.

A dúvida sobre sua permanência se mantém, ao mesmo tempo em que a narração dá uma guinada no estilo: está cada vez mais informativa e menos cheia de bordões; usa mais a tecnologia e se distancia do estilo radiofônico, no qual o jogo é descrito nos mínimos detalhes para que o ouvinte "veja" os lances.

Especialistas divergem sobre os caminhos da locução. Há o time que prefere a narração-arte aos tais "idiotas da objetividade". É o caso de Xico Sá, comentarista do canal SporTV e colunista da Folha.

"O narrador não deve perder a capacidade de inventar, driblar a verdade das mil câmeras", diz. Para ele, o narrador Milton Leite, 55, do SporTV, "é o cara", hoje.

Se capacidade inventiva conta, Silvio Luiz, 79, também ganha ponto. Símbolo do humor na locução, hoje na RedeTV!, já passou por Band, SBT e Record. "Narrar é legendar uma imagem, não falar o óbvio", defende.

Do outro lado do campo há adeptos da narração discreta. Juca Kfouri, colunista da Folha e comentarista da ESPN, capitaneia o time. Diz gostar do estilo mais conversado. "Torcedor algum grita gol como narrador, não fica 15 segundos soltando o berro."

Desse time faz parte Alex Escobar, 39, da Globo, que recebeu críticas pela performance considerada fria na primeira vez em que transmitiu um jogo para o Estado de São Paulo. "Gosto de narração honesta, não pode passar emoção falsa."

A origem dos profissionais explica a mudança no jeito de transmitir.

"Não temos mais narradores que vieram do rádio, como há 20 anos. Isso moldou um estilo televisivo de narrar", lembra Milton Leite.

Cleber Machado, 52, locutor número 2 da Globo, destaca o impacto da tecnologia. Recursos gráficos como a mesa virtual que mostra variações táticas ajudam a descontrair a narração. Ele diz não se ver como herdeiro de Galvão. "Não há sucessor. Cada um tem a sua história."


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