Folha de S. Paulo


Obra de Santiago Nazarian prega existencialismo pop

Santiago Nazarian vive no limbo a que são relegados os escritores que resolveram tentar um estilo meio fora da caixinha da literatura brasileira. Santiago é pop, mas nem tanto. Seus livros falam de drogas, sexo e são mais pesados do que a média.

"No Brasil ou você é sério ou é ruim", diz ele. Não que seus livros não sejam sérios. Ele pratica o que chama de "existencialismo bizarro", trazendo tormentos para dentro de um universo "trash".

Quando escreveu "Garotos Malditos", recebeu um selo ingrato: o de autor de livros infantojuvenis, o que o desautorizaria como escritor de literatura séria. "Leitores jovens disseram que o livro era pesado. Já os autores mais sérios diziam: 'Esse cara não pode ser bom'. É uma espécie de maldição do alternativo."

Karime Xavier/Folhapress
Escritor Santiago Nazarian, que está publicando seu oitavo trabalho literário, 'Biofobia
Escritor Santiago Nazarian, que está publicando seu oitavo trabalho literário, 'Biofobia'

A coisa toda é paradoxal, pois os leitores de Santiago costumavam ser jovens mesmo antes de "Garotos Malditos", atraídos tanto pelo pop quanto pela densidade existencialista dos seus livros.

O oitavo deles acaba de sair, e se chama "Biofobia", título que causou polêmica. "Meu antigo editor detestava. Minha agente também não achava bom. Já o Marcelino Freire me pediu para vender a ele caso não fosse usar."

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Biofobia
Santiago Nazarian
Biofobia
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O título cai bem na história do roqueiro de meia-idade que volta para a casa da mãe após o suicídio dela, e se vê atormentado pela natureza selvagem que domina o cenário. A mãe era uma escritora de sucesso refugiada num sítio.

A mãe de Santiago é a escritora Elisa Nazarian, cuja carreira deslanchou depois da do filho. "Ela deve estar lendo o livro agora, não quis mostrar antes." Por via das dúvidas, o escritor desmentiu, na última página, qualquer relação mais íntima com a realidade contida no livro.

Amigos e referências do escritor aparecem mal no romance. Várias obras da literatura brasileira atual são queimadas pelo personagem, em prol do fogo de uma lareira.

O autor fez um tipo de exorcismo. Mas sem perder a ironia. Além do pop e do 'trash', não falta humor em seus livros. Um deles, "Mastigando Humanos", é narrado por um jacaré. Rir é um alívio para quem entra em "Biofobia".

CADÃO VOLPATO é escritor, ilustrador e músico, autor do romance "Pessoas que Passam pelos Sonhos" (Cosac Naify).

BIOFOBIA
AUTOR Santiago Nazarian
EDITORA Record
QUANTO R$ 30 (240 págs.)


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