Folha de S. Paulo


Em Cannes, longa 'Jimmy's Hall', de Ken Loach, discute conflito religioso

Depois de surpreender Cannes há dois anos com o hilariante "A Parte dos Anjos", o diretor britânico Ken Loach volta ao festival francês dentro do gênero que o tornou famoso.

"Jimmy's Hall", que faz parte da competição oficial, é um drama baseado numa história real.

O filme traz à tona a história de Jimmy Gralton (Barry Ward), único irlandês expulso do seu próprio país por recusar um acordo com a poderosa Igreja Católica na década de 1930. A instituição pedia a extinção de um centro comunitário levantado por Jimmy em suas terras.

Divulgação
Os atores Barry Ward e Simone Kirby dançam no filme 'Jimmy's Hall', dirigido por Ken Loach
Os atores Barry Ward e Simone Kirby dançam no filme 'Jimmy's Hall', dirigido por Ken Loach

Passados dez anos desde os eventos de "Ventos da Liberdade" (2006), única Palma de Ouro de Loach, "Jimmy's Hall" mostra uma Irlanda (e a igreja) temendo um novo levante violento após a guerra da independência.

Jimmy poderia ser a fagulha comunista dessa nova explosão ao reformar um centro comunitário para ensinar lá literatura, boxe e dança.

"É um centro com adolescentes lendo poemas e dançando. Algo bastante perigoso", brincou o cineasta em Cannes.

'CINEMA SUBVERSIVO'

O filme usa esse véu da Irlanda dos anos 1930, mas há nele uma discussão mais moderna, como o apetite voraz do capitalismo unido à religiosidade oportuna e o destino de quem ousa nadar contra essa corrente.

"Só existe uma política na Europa: manter o status da moeda. Combater isso é como combater o próprio Deus. O cinema pode ser subversivo, podemos questionar as autoridades e fazer as perguntas certas, mas não adianta muito se as pessoas certas não tomarem atitude", disse o britânico.

"Os cineastas agora não suportam escrever sobre operários, querem apenas criar assassinos ou vítimas."

Esse discurso pode ficar ainda mais raro caso Loach, um cineasta obcecado pelo homem comum —assim como seu roteirista, Paul Laverty—, decida se aposentar, como andou anunciando.

"Vou assistir à Copa do Mundo e esperar ver o que traz o outono", desconversou o diretor.

"Mas é um trabalho difícil de largar."


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