Folha de S. Paulo


Dono do hit 'Don't Worry, Be Happy' é o nome principal do BMW Jazz Festival

Aos 64 anos, o cantor nova-iorquino Bobby McFerrin é a principal atração do BMW Jazz Festival, que começa em São Paulo no dia 29. Os brasileiros podem esperar noites de surpresas com McFerrin, mestre do improviso vocal.

A única coisa certa: ele não vai cantar "Don't Worry, Be Happy", a música fofa e "pra cima" que o tornou famoso mundialmente em 1988. A canção deu a ele três de seus dez prêmios Grammy.

Nada contra os brasileiros. McFerrin nunca a apresentou ao vivo —"é apenas uma experiência de estúdio", disse à Folha o cantor, na Filadélfia.

Divulgação
Bobby McFerrin, que vem ao Brasil no fim do mês para shows em São Paulo, Rio e Belo Horizonte
Bobby McFerrin, que vem ao Brasil no fim do mês para shows em São Paulo, Rio e Belo Horizonte

Talvez McFerrin nem improvise tanto, porque vai divulgar o álbum "spirityouall", com antigas canções americanas e composições suas.

Ele faz dois shows em São Paulo: no dia 31 de maio, no HSBC Brasil, e no dia 1º de junho, ao ar livre e de graça, na plateia externa do Auditório Ibirapuera.

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Folha - Você ficou conhecido por um sucesso pop, "Don't Worry, Be Happy", se consagrou como fenômeno de improvisação vocal e aí passou a conduzir orquestra. Qual o foco do seu trabalho hoje?
Bobby McFerrin - Tive muita sorte em meu caminho. A percepção que o mundo tem de mim mudou com "Don't Worry, Be Happy", mudou novamente quando passei a cantar à capela e, mais uma vez, quando passei a conduzir. Mas em tudo sigo a mesma vontade de pensar menos e cantar mais, com a alma.

Depois de décadas, qual o sentimento que você tem por "Don't Worry, Be Happy"? Você a canta nos shows?
Não. Eu nunca cantei realmente essa canção ao vivo. Eu amei gravá-la, mas são sete canais da minha voz sobrepostos, é estritamente uma experiência de estúdio. Virou um sucesso instantâneo, e eu não esperava.

Mas as pessoas pedem que você a cante?
Em todos os shows! Em todos os lugares! Todo mundo quer ouvir essa música. Mas estou preocupado em dividir com as pessoas o som que me empolga no momento.

Sei, as pessoas pensam que sou louco, mas para mim é o caminho certo a seguir. Sou muito grato a "Don't Worry, Be Happy", ela me deu oportunidade de chegar a muitas pessoas e dinheiro para outros projetos. Foi divertido escrevê-la e gravá-la.

Como é sua técnica de improvisação? Você escreve uma canção e depois a recria em cada show?
É mais o contrário disso. Eu escrevo mesmo uma canção, no sentido de colocá-la no papel, depois de desenvolvê-la durante muitos shows. Isso às vezes leva anos.

O álbum "spirityouall" traz canções tradicionais.
Aí o processo muda. O desafio passa a ser tornar essas músicas bem diferentes a cada show. Mesmo quando me apresento com uma banda não tenho um repertório preparado. Para surpreender o público, eu preciso também surpreender os músicos que tocam comigo.

Você esteve no Brasil em 2011. O que você achou do país?
As pessoas de todos os lugares me fazem perguntas assim e eu sempre me sinto culpado. Vou explicar.

Acho que o público sempre tem uma grande expectativa. Então minha prioridade é o show, e para fazê-lo bem eu preciso ficar bem quietinho fora do palco. Sou praticamente um recluso. Eu só saio do hotel para fazer passagens de som e dar os shows.

Então, o que eu lembro do Brasil são as plateias. Todos têm uma ligação forte com a música, você sente isso no ar. Em muito lugares, o público é tímido para cantar. No Brasil você nem precisa pedir, todo mundo sai cantando. Espero encontrar de novo essa força.


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