Folha de S. Paulo


Sexagenária em busca da farra eterna abre mostra Um Certo Olhar

A atriz chilena Paulina García ganhou o Urso de Prata do Festival de Berlim, ano passado, por seu papel em "Gloria". Nele, ela interpreta uma cinquentona em busca do amor e de seus anos perdidos. Já "Party Girl", exibido nesta quinta-feira (15) na abertura da mostra Um Certo Olhar, a segunda mais importante de Cannes, é basicamente o "anti-Glória": Angélique (Angélique Litzenburger) é uma mulher de 60 anos, que não quer saber de amor, mas de continuar na farra até cair de bêbada.

O longa francês, codirigido por Marie Amachoukeli, Claire Burger e Samuel Theis, recebe a ingrata missão de tornar uma personagem defeituosa simpática aos olhos do público. Mas não consegue. Angélique é uma idosa fora dos padrões que atrai clientes homens em um bar de strip-tease na fronteira da França com a Alemanha para vender champanhe da casa. Só que um deles, Michel (Joseph Bour) termina se apaixonando por ela e a pede em casamento.

O que se segue é uma batalha interna de uma mulher contra a esperada acomodação social imposta por filhos e colegas. Ela sabe que não pode lutar contra a decadência física, que não é capaz de seduzir jovenzinhos em busca de strippers há anos e que, em tese, deveria dizer "sim" para alguém que parece um grande partido, mesmo que não o ame.

Por mais que a atuação de Litzenburger seja convincente, a luta é difícil de ser vencida pela própria protagonista e fica quase insuportável para o espectador perto do fim —mesmo com a presença dos diretores na abertura, o público não se entusiasmou e mal aplaudiu durante os créditos. Compreensível. Quando "Party Girl" atinge seu clímax (a decisão sobre casar ou não), em vez da festa ficar melhor e mais animada, na pista só sobram os bêbados chatos e consequências resolvidas de forma abrupta.


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