Folha de S. Paulo


Edifício que abrigou o Cine Ipiranga em São Paulo é tombado

Foi publicada nesta quarta-feira (14) uma resolução da Secretaria de Estado da Cultura tombando o edifício que abrigou o antigo Hotel Excelsior e o Cine Ipiranga, localizado na avenida Ipiranga, 770 e 786, no centro de São Paulo. A Prefeitura pretende abrir um cinema de rua no local.

Segundo o texto do tombamento, o prédio projetado pelo arquiteto Rino Levi (1901-1965), é um exemplo da arquitetura moderna e resultado de uma concepção criativa caracterizada por sobrepor, em um terreno pequeno, "uma grande torre de hotéis e uma monumental sala de cinema, ambos representativos de programas inovadores e característicos de meados do século 20 em São Paulo".

Formado na Itália, Levi foi um dos maiores expoentes do modernismo brasileiro, conhecido por seus desenhos de ângulos retos e austeros. O Cine Ipiranga foi o quarto cinema que projetou em São Paulo, depois de ter feito outros gigantes como o Ufa-Palácio, o Universo e o Piratininga, todos na região central da cidade.

Niels Andreas/Folhapress
Cine Ipiranga, na avenida Ipiranga com avenida São João, em imagem de 1987
Cine Ipiranga, na avenida Ipiranga com avenida São João, em imagem de 1987

Inspirado no racionalismo italiano, em especial na distribuição em torno de pátios internos, e nas formas geométricas do arquiteto polonês Erich Mendelsohn, por sua vez alinhado aos preceitos racionais do fundador da Bauhaus, Walter Gropius, e do alemão Mies van der Rohe, Levi criou uma fachada quadriculada para o cinema.

Mas abusou das referências ao art déco do lado de dentro. Os detalhes nesse estilo do início do século 20 estão nas luminárias e escadarias do Cine Ipiranga, também famoso por seus balcões e marquises em curva do lado de dentro.

Em suas construções, o arquiteto também fez alusões ao impacto que sentiu ao visitar a Casa Modernista, obra de Gregori Warchavchik, na Vila Mariana, uma das primeiras construções modernas em São Paulo.

Mesmo fascinado pela casa, o arquiteto foi um dos maiores defensores da verticalização da cidade e seu edifício Columbus, de 1934, é considerado o primeiro condomínio de apartamentos na capital paulista.

A sala do Cine Ipiranga, aberta em 1941 e fechado em fevereiro de 2005, ainda conserva grande parte de sua concepção original, incluindo detalhes no corrimão e luminárias. O espaço interno do hotel, por sua vez, sofreu algumas reformulações ao longos dos anos, com renovação dos quartos e dos banheiros.

De acordo com o texto de tombamento, contudo, as fachadas externas "mantêm presença marcante na paisagem, apresentando claramente suas características fundamentais de arranha-céu vinculado à arquitetura moderna".

Foi determinado que a configuração do saguão, as escadarias e a sala de espetáculos do cinema serão preservados. Para assegurar a manutenção do edifício, podem ser acrescentados a ele alguns elementos de infra-estrutura desde que aprovados pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico).

O Condephaat autorizou o tombamento em reunião realizada em 25 de outubro de 2010.


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