Folha de S. Paulo


Alemão dono do 'tesouro' nazista deixou coleção para museu

O colecionador de arte alemão Cornelius Gurlitt, morto nesta terça-feira (6), deixou sua coleção de obras de arte para o Museu de Belas Artes de Berna, na Suíça.

Gurlitt guardou em seu apartamento, durante décadas, cerca de 1.400 obras suspeitas de terem sido saqueadas pelos nazistas, entre elas quadros de artistas como Picasso, Chagall e Matisse —muitas delas desconhecidas. Inúmeros meios de comunicação questionaram qual seria o destino das obras quando a notícia de que o colecionador havia morrido foi divulgada.

Em um comunicado, o museu da cidade suíça anunciou que foi "informado [sobre a herança] por uma mensagem telefônica e escrita da parte de Christophe Edel, advogado de Cornelius Gurlitt".

O museu demonstrou surpresa pela escolha, manifestando que "nunca, em nenhum momento, teve a mínima relação" com o colecionador alemão. No comunicado, seus representantes também reconheceram que esta herança "levanta uma série de questões espinhosas, especialmente jurídicas e éticas".

Wildbild - 19.nov.2013/AFP
A placa com o nome de Gurlitt na porta de sua casa em Salzburg, na Áustria
A placa com o nome de Gurlitt na porta de sua casa em Salzburg, na Áustria

Declararam ainda que pretendem consultar os documentos do legado e entrar em contato com as autoridades competentes, antes de tomar "uma posição concreta".

O chamado "tesouro de Munique" foi descoberto pelas autoridades alemãs em 2012 no apartamento de Gurlitt, mas a notícia foi divulgada apenas em novembro de 2013 pela revista alemã "Focus".

Gurlitt herdou as obras de seu pai, Hildebrand Gurlitt, um marchand de arte encarregado pelo Terceiro Reich de vender quadros para conseguir divisas para o governo nazista.

Além dos cerca de 1.400 quadros encontrados em seu apartamento de Munique, outros 200 foram localizados em sua casa de Salzburgo, na Áustria.

Após a descoberta, as obras foram confiscadas pela justiça, que liberou o embargo há algumas semanas, como parte de um acordo. Em contrapartida, o alemão concordava em devolver as obras aos descendentes de seus donos originais.

De acordo com os advogados do colecionador, porém, apenas 3% das obras foram saqueadas pelos nazistas e, portanto, deveriam ser devolvidas.

AFP
Imagens divulgadas pelas autoridades alemãs; entre elas, há obras de Delacroix e Cezanne
Imagens divulgadas pelas autoridades alemãs; entre elas, há obras de Delacroix e Cezanne

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