Folha de S. Paulo


Análise: Adaptações de García Márquez para o cinema não fazem jus aos livros

García Márquez amou o cinema, mas não se pode dizer que o cinema tenha amado García Márquez com a mesma intensidade. Nenhum dos mais de 20 filmes feitos a partir da obra do escritor fez justiça à sua literatura.

García Márquez escrevia histórias de grande escopo, épicas, cuja força vinha de uma elaboração poética nada realista, e não houve diretor capaz de traduzir cinematograficamente essas características.

Boa parte das adaptações de seus romances e contos esteve fadada a se tornar uma daquelas grandes coproduções internacionais de resultado insosso, faladas em inglês, como "O Amor nos Tempos do Cólera" (2007), do inglês Mike Newell, com Javier Barden e Giovanna Mezzogiorno, ou "Crônica de uma Morte Anunciada" (1987), do italiano Franceso Rosi, com Rupert Everett, Ornela Mutti e Irene Papas.

Ruy Guerra dirigiu pelo menos dois filmes com roteiro e diálogos assinados pelo amigo —"Erêndira" (1983) e "A Bela Palomera" (1988), ambos com Claudia Ohana—, e ainda adaptou "O Veneno da Madrugada" (2006). Filmes que até têm bons momentos, mas estão muito longe da força de, por exemplo, "Os Fuzis".

García Márquez foi um dos fundadores e era professor da Escola de Cinema de San Antonio de Los Baños, em Cuba, e a partir de sua experiência com os alunos escreveu um "guia de roteiro" não convencional e fascinante, chamado "Me Alugo para Sonhar".

Mas sua obra-prima, "Cem Anos de Solidão", nunca chegou às telas. Reza a lenda que ofertas não faltaram, e que o autor sempre arrumava um pretexto para impedir a compra dos direitos. Sabia, no fundo, que seria uma tarefa impossível.


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