Folha de S. Paulo


Seus livros seguirão ganhando leitores, diz Vargas Llosa sobre García Márquez

A morte do escritor colombiano Gabriel García Márquez, ocorrida nesta quinta-feira (17) no México, aos 87 anos, causou impacto no meio artístico.

Um de seus grandes rivais, o escritor peruano Mario Vargas Llosa, manifestou pesar quanto à perda.

"Morreu um grande escritor, cujas obras deram grande difusão e prestígio à literatura de nossa língua [espanhola]. Seus livros o sobreviverão, seguirão ganhando leitores. Envio meus pêsames a sua família", disse ele em entrevista à TV Canal N, do Peru.

Amigos no passado, Vargas Llosa e García Márquez romperam na década de 1970, depois que o peruano atingiu o colega com um soco, deixando-o de olho roxo. Diversas versões já foram divulgadas sobre o que motivou a briga, mas nenhum dos dois jamais esclareceu o que se passou entre eles.

Leia abaixo o que disseram outros artistas sobre a morte de Gabriel García Márquez.

*

"Não há o que dizer nesses momentos. Era um grande escritor, que deixou sua marca na história da literatura em todo o mundo. E agora partiu, como acontece a todos nós. Pessoalmente, a notícia, apesar de esperada, me entristeceu. Acho que não há mais o que falar."
JOÃO UBALDO RIBEIRO, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, à Folha

" Ainda estou abalado com a notícia, um autor desse quilate, uma estrela do nosso catálogo, que também era um amigo. Há muito tempo ele não vinha para o Brasil por causa da saúde dele. Apesar de a gente esperar por isso, é um choque. É um dos grandes expoentes da literatura, no plantel de ganhadores do Nobel ele se destaca entre os mais importantes. Foi um grande precursor da América Latina no cenário da literatura mundial, a partir dele a literatura da América do Sul passou a ser considerada mundialmente."
SÉRGIO MACHADO, dono da Record, que edita seus livros no Brasil, à Folha

"É uma perda difícil para todos. Uma perda que evoca grandes memórias. Mas pelo menos podemos nos conformar com a ideia de que podemos preencher esse vazio com a grande obra que ele nos deixou. É lógico que vai deixar um grande vazio, mas, inclusive quando estivemos afastados, ele sempre emitiu sinais de grandeza. Cada vez que nos deixava ver uma página sua, nos garantia que o talento é possível, que a literatura se justifica e que as palavras podem encher as ânsias da humanidade. Nós, amigos, pensávamos que era imortal, não só por sua obra, mas também por sua forma de ser, por ser um caribenho com uma forma de ver a vida muito parecida como a que vemos no Brasil. Sua obra garante uma soberania criadora para as Américas."
NÉLIDA PIÑON, escritora brasileira e amiga pessoal de Gabriel García Márquez, à agência de notícias Efe

"Foram quase 40 anos de amizade. Ou, como ele dizia, de pura máfia. Porque, para ele, havia amizades e havia a máfia, com códigos próprios, com generosidade, lealdade, essas palavras que para o Gabo eram tão sólidas como um paralelepípedo. Ele deixa em mim, na minha vida, um vazio do tamanho da minha dor. Um vazio que nem eu, nem ninguém, pode ou poderia medir. Ficam os livros, ficam as lições, fica tudo isso e muito mais. Nada disso me consola. A memória, talvez a memória possa servir de consolo."
ERIC NEPOMUCENO, tradutor de Gabriel García Márquez e amigo pessoal do escritor, à Folha

"Querido Gabo, você me disse uma vez que a vida não é o que alguém viveu, mas a vida como esse alguém se lembra dela e como ele se lembra dela para recontá-la...sua vida, querido Gabo, será lembrada por todos nós como um presente único e singular, e a história mais original de todas. É difícil dizer adeus a você com tudo que você nos deu! Você sempre estará em meu coração e nos corações daqueles te amavam e te admiravam."
SHAKIRA, cantora colombiana, em seu site oficial

"O fato de ele ter colocado a literatura fantástica na ordem do dia não só colocou a literatura latino-americana no mapa mundial como abriu um enorme panorama para a imitação. Ele criou um novo veio de literatura com aquele negócio. Todo mundo começou a criar literatura fantástica, não só na América Latina. Começou um surto de literatura fantástica. Para mim ele é grande não só por isso, mas também como criador de personagens que são absolutamente nossos parentes. Parece que você tem um tio assim, uma avó igual àquela. É uma facilidade de identificação do personagem com seres reais dentro de uma literatura fantástica. Eles são a transposição de tudo isso para um novo ângulo temporal. Ele cria uma coisa que transcende a nossa visibilidade habitual, mas que está ali dentro. Você sente aqueles personagens como seus parentes. Se eu pudesse ter feito esse personagem, eu teria sido um grande escritor."
IVO BARROSO, crítico literário, à Folha

"Eu escrevi umas cem páginas sobre García Márquez. É muito difícil dizer uma coisa muito curtinha sobre ele. Não se discute que García Márquez está entre os dez grandes prosadores da hispano-América. Na impossibilidade de voltar a acompanhar seu trajeto nesse instante de despedida, apenas observaria que ele consegue algo quase milagroso no campo das letras, ou seja, reunir uma extrema qualidade com uma extrema popularidade. Em outras palavras, havendo sido um best-seller, García Márquez não deixava de ser, ao contrário de seus colegas de 'gênero', um grande escritor."
LUIZ COSTA LIMA, crítico e professor da Uerj e da PUC do Rio, à Folha

"Ele tinha uma qualidade muito rara, que além de ser um excelente escritor, era muito gostoso de ler. Dificilmente alguém pegava um livro dele e conseguia largar. Isso não acaba com a morte, vai continuar."
ANA MARIA MACHADO, escritora e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, à Folha

"Posso dizer que García Márquez representou para mim um alumbramento, uma descoberta. 'Cem Anos de Solidão' para mim só encontrou um paralelo no 'Grande Sertão: Veredas'. Foi um livro que me mostrou outras possibilidades narrativas, uma viagem de encantamento literário das mais fortes que eu já vivi na minha vida. Não me tornei um leitor que acompanhasse toda a obra dele. Fui lendo outras obras, mas nada se compara ao impacto de 'Cem Anos de Solidão'."
ANTÔNIO CARLOS SECCHIN, poeta, professor e integrante da Academia Brasileira de Letras, à Folha

"Ele fundou uma escola de cinema em Cuba em 1986. Durante 20 anos, ele dedicava anualmente uma semana, a primeira de dezembro, para dar oficinas a jovens escritores. Ele ouvia as histórias dos aspirantes a escritores e colaborava com elas. Embora gratuita, era algo muito restrito e muito difícil de se conseguir entrar. De 2005 a 2006, passei quase um ano procurando informações sobre como entrar nessa oficina. De tanto eu insistir, tive sorte. Em 2006, a organizadora da oficina se lembrou de mim e me disse que ele só tinha escolhido nove nomes para a atividade naquele ano, faltava um. Mas ela não podia simplesmente me inscrever, eu tive que mandar uma proposta de história e ser aprovada por ele. Isso aconteceu e eu pude então passar cinco dias tendo aulas com Gabriel García Márquez em Cuba. Para mim, foi absolutamente marcante e revolucionário. Inesquecível. Além de tudo que eu aprendi de técnica e de narrativa, o importante para mim foi ele aprovar meu projeto de história. Ele ainda me fez prometer que ia terminar o livro. Mais do que isso, ele me incentivou, dizendo que sabia que a profissão de escritor era muito difícil, mas que a gente precisava ter coragem para acreditar que era possível. Foi a grande lição dele. Eu não sabia, mas aquela acabou sendo a última dessas oficinas. Ele já estava com a saúde debilitada e, em 2007, a família impediu que ele continuasse se dedicando a essa atividade. Por fim, publiquei neste ano, de fevereiro para março, o livro que desenvolvi na oficina. É 'A Cabeça do Santo', da Companhia das Letras."
SOCORRO ACIOLI, escritora que foi aluna de Gabriel García Márquez em Cuba, à Folha

"Foi um grande escritor universal, apesar de muito identificado com a América Latina e com o realismo mágico. Lido e entendido em qualquer lugar. Era um escritor muito criativo, em inventar histórias, situações. Essa criatividade encantava seus leitores."
LUIS FERNANDO VERISSIMO, escritor, em entrevista à GloboNews

"É uma grande tristeza para todo mundo, mas a obra dele fica. A hora que quiser falar com García Márquez, pegue um livro dele e leia. Não era apenas a forma dele escrever, a maneira de dizer, mas também a história que ele estava contando. Ele escreveu livros absolutamente excepcionais."
ROBERTO DAMATTA, escritor e antropólogo, em entrevista à GloboNews

"Viva Gabriel García Márquez!"
PAULO COELHO, escritor, no Twitter

"Morreu um grande homem. Mas, felizmente, não podemos dizer que morreu o escritor Gabriel García Márquez. E, a partir de agora, haverá de estar mais vivo do que nunca na memória de seus leitores. Os dias que virão seguirão confirmando essa verdade universal: que o filho de Aracataca é um dos maiores fabuladores, um dos maiores narradores e um dos maiores escritores de todos os tempos."
DASSO SALDÍVAR, biógrafo de Gabriel García Márquez


Endereço da página:

Links no texto: