Folha de S. Paulo


Análise: Djavan pode ser chato e gênio, talvez, mas sempre um artista

Djavan é um dos chatos da MPB. São vários, facilmente elencados pelas pessoas: ele, Oswaldo Montenegro, Jorge Vercillo, Ivan Lins, Humberto Gessinger, João Gilberto...

São artistas que, em algum momento de suas carreiras e por motivos indecifráveis, passaram a ser rejeitados por parte do público. De uma hora para outra, passou a pegar mal gostar deles.

Djavan parece ter habilidade para lidar com isso. Em um programa de TV, contou, rindo, que uma garota revelou a ele sofrer bullying na escola por se declarar sua fã.

Marcos Hermes/Divulgação
Djavan durante a gravação do DVD 'Rua dos Amores Ao Vivo' em SP, em novembro
Djavan durante a gravação do DVD 'Rua dos Amores Ao Vivo' em SP, em novembro

Muitos desses artistas afirmam ver nessa perseguição um pouco da velha tese de que brasileiro não gosta de quem faz muito sucesso.

No caso de Djavan, entra na balança a crítica às letras herméticas, ou, falando português claro, incompreensíveis.

Ele já explicou várias vezes o significado de versos como "Açaí, guardiã/zum de besouro um imã/branca é a tez da manhã", mas não convence.

Driblando a pecha de chato e gênio incompreendido, Djavan tem todo o direito de querer voltar a tocar no rádio.

Ele segue criando sua música. Nunca parou de gravar. Há uma década, quando seus pares ficaram com cara de cachorro que caiu da mudança diante da ruína da força comercial das grandes gravadoras, tratou de se mexer.

Abriu seu próprio selo, Luanda Records. Nunca recorreu ao famigerado formato "acústico". Não infesta seus álbuns com convidados mais "comerciais".

Em 37 anos de carreira fonográfica, lança apenas agora seu terceiro disco "ao vivo", uma muleta recorrente para artistas da MPB sem ter nada de novo a apresentar.

Burt Bacharach, um monstro da música pop do século 20, respondeu no ano passado a este editor quem era seu artista brasileiro favorito: "Djavan. Um gênio!".


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