Folha de S. Paulo


Em prévia do Lolla, Arcade Fire toca Caetano e Tom Jobim no Rio

A julgar pela apresentação que os canadenses do Arcade Fire fizeram na noite de sexta (4), no Citibank Hall, no Rio, já há um forte candidato ao título de melhor show do Lollapalooza 2014, que começa hoje (5), no autódromo de Interlagos, em São Paulo.

A banda, que encerra o festival amanhã, mostrou um de seus shows mais empolgantes e bem amarrados, cheio de referências ao Brasil e com direito a trechos de "Nine out of Ten", de Caetano Veloso, "O Morro Não Tem Vez", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, e da versão em inglês de "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso.

Com 12 músicos no palco, liderados pelo casal Win Butler e Régine Chassagne, a banda mostrou um repertório que privilegiou o disco mais recente, "Reflektor" (2013), com suas canções eletrônicas de beats dançantes, como a faixa-título, usada logo na abertura do show com grande efeito, além de "Joan of Arc" e "Afterlife", que também levantaram a plateia.

O show também teve um visual interessante: figurinos extravagantes —isso para não falar nos cortes de cabelo—, um cenário com grande telão ao fundo e diversas peças que refletiam a luz, incluindo uma figura numa fantasia toda espelhada.

Butler, em noite bastante interativa, saudou a plateia carioca e disse que o Rio é "uma das nossas cidades preferidas no mundo", mas também foi além dos chavões: agradeceu ao Brasil pelo apoio ao Haiti (país da família de Régine) e por receber refugiados haitianos, e ainda pediu desculpa pelo preço dos ingressos (de R$ 210 a R$ 440): "Sei que está bem acima da média de renda da maioria dos brasileiros".

Além das canções mais recentes, muito bem recebidas pelos fãs, a banda mostrou sucessos de seu primeiro álbum ("Funeral", 2004) que foram pontos altos na cantoria coletiva, como as três "Neighborhood", incluindo a número dois ("Laika"), que ainda não havia sido executada nesta turnê.

Do terceiro álbum de carreira, "The Suburbs" (2010), foram outras cinco músicas, incluindo a faixa-título, que foi introduzida com uma pitada de ironia por Butler. "Essa é uma canção sobre o que o Brasil vai ser depois da Copa do Mundo", disse o vocalista.

Vestida como Eurídice, a simpática Régine Chassagne passou por diversas posições e instrumentos no palco, como de hábito, e assumiu os vocais nas duas últimas músicas antes do bis.

A primeira delas, "It's Never Over (Oh Orpheus)", foi introduzida com um trecho de "O Morro Não Tem Vez" cantado em português e teve no telão cenas de "Orfeu Negro" (1959), filme de Marcel Camus baseado na obra de Vinicius e Tom.

Depois de "Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)", a banda deixou o palco e foi substituída por uma versão "fake": três figuras com as "bobbleheads" (grandes cabeças de bonecos) que dublaram "Nine out of Ten", de Caetano.

O Arcade voltaria atacando com "Normal Person" misturada à canção do baiano, encerrando com "Here Comes the Night Time" e uma versão acústica de "Wake Up" que rendeu o maior coro de "ôôô" da noite.

Pena que, talvez por causa do preço, não foram muitos os cariocas que se animaram a conferir a segunda vinda do Arcade Fire à cidade – o Citibank Hall, com capacidade para 8.450 pessoas, não estava nem com metade da lotação.

No Lollapalooza, que tem capacidade para 70 mil, o volume deve ser maior, em todos os sentidos.

Set list Arcade Fire

"Reflektor"
"Flashbulb Eyes"
"Neighborhood #3 (Power Out)"
"Rebellion (Lies)"
"We Used to Wait"
"Joan of Arc"
"The Suburbs"
"Ready to Start"
"Neighborhood #1 (Tunnels)"
"No Cars Go"
"Neighborhood #2 (Laika)"
"Afterlife"
"It's Never Over (Oh Orpheus)"
"Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)"
"Normal Person"
"Here Comes the Night Time"
"Wake Up"


Endereço da página: