Folha de S. Paulo


'Eu só quero que as mulheres pensem por si mesmas', diz a cantora Lorde

Dois agentes, um segurança e três assessores preparam terreno para a chegada da cantora neozelandesa Lorde, 17, ao terraço do hotel Unique, em São Paulo. Em sua primeira visita a América do Sul, ela tocou no festival Lollapalooza em Santiago do Chile e se apresenta em São Paulo no sábado (5), no Autódromo de Interlagos, a convite do mesmo evento, o festival Lollapalooza, que também recebe atrações no domingo (6).

Apesar do rebuliço e dos avisos sobre o temperamento da jovem antes do seu encontro exclusivo com a Folha —"vamos ver como estará seu humor para tirar fotos" ou "ela é a única artista que está me dando trabalho"—, Lorde aparece sorridente. Vestida toda de preto, ela cumprimenta todos com um beijo no rosto —e um abraço apertado, no caso da repórter.

No palco Interlagos, às 18h30, ela promete mostrar o repertório do EP "The Love Club", além de covers "que você vai descobrir" e músicas do seu único disco, "Pure Heroine", bem avaliado por veículos especializados como o "Pitchfork", "NME" e "Rolling Stone".

O álbum lançado em 2013 inclui o hit "Royals", que a colocou no mapa, desbancou Miley Cyrus no ranking semanal da revista "Billboard" e hoje soma quase 250 milhões de visualizações no YouTube.

Seu pop com batidas eletrônicas e de hip-hop também é composto de camadas sobrepostas de sua própria voz, o que ela garante não soar estranho ao vivo.

"Incorporamos sons de teclados nessas partes. Provavelmente seria mais estranho se houvesse outras pessoas cantando, porque não seria a minha voz", explica com olhar hipnótico.

Animada com a segunda apresentação para o público latino-americano, Lorde diz não ter um ritual para subir ao palco. Mas faz um aquecimento físico e fala para si mesma que a plateia está animada para ouvi-la.

"Eu tenho muito medo de palco. Sinto que vou vomitar antes de entrar. É terrível. Já viu esses filmes em que os­ atletas ficam socando o ar (imita o movimento)? Eu faço isso. É bem estranho de ver", revela aos risos.

Para se manter atualizada, a cantora escuta de tudo na internet. De discos presentes em listas de melhores do ano a artistas alternativos, como o norte-americano Sun Kil Moon. E quando é para absorver referências, não olha para estrelas femininas do pop, mas para David Bowie e Kanye West.

"Eu gosto de ser durona e de me vestir de um jeito que não é tradicionalmente feminino", esclarece.

O mesmo funciona na hora de compor. "Eu tenho uma relação estranha com o fato de escrever músicas sobre amor. Como eu sou uma garota e faço pop, é isso o que eu estaria resignada a fazer", explica.

E vai além. "Por um tempo, a música pop teve papéis para a mulher, indicava o tipo de música que ela deveria fazer e o que ela deveria retratar sobre relacionamento e amor. Estamos vivendo um momento em que não precisamos mais desses papéis. Eu só quero que as mulheres pensem por si mesmas", afirma.

Apesar de madura para a idade, a cantora adolescente sente que existe uma pressão da indústria de beleza por perfeição. Mas não se dobra. No dia do seu show em solo chileno, viu uma foto sua na internet que teria "eliminado" suas acnes.

Postou no seu perfil do Twitter a imagem real e a retocada, constatando ainda "ter falhas é ok". "O meu público tem respondido muito positivamente ao fato de eu tentar ser realista sobre a minha aparência e não ser perfeita. Eu não sou paga para ser modelo. Eu escrevo músicas, amo fazer isso e sou boa fazendo isso", conclui.


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