Folha de S. Paulo


Cartas de Drummond para mãe são expostas pela primeira vez

"Minha boa mamãe: depois de alguns dias de silêncio, aqui está de novo o seu caçula, para pedir-lhe a bênção e conversar um pouco", escrevia Carlos Drummond de Andrade à mãe, Julieta Augusta, em agosto de 1942.

Adquiridas há duas décadas por um jornalista de Lavras, sul de Minas Gerais, essa e 120 outras cartas escritas por Drummond para sua mãe são expostas ao público pela primeira vez.

Compradas nos anos 1990 por Eduardo Cicareli das mãos de Ita, cunhada do poeta, que as herdou da própria Julieta, as cartas retornam agora à Casa de Drummond, onde o escritor viveu até os 13 anos, em Itabira (MG). O local é hoje um centro cultural.

Divulgação
Cartas de Drummond à mãe, expostas em Itabira (Minas)
Cartas de Drummond à mãe, expostas em Itabira (Minas)

"Assim que tive notícia pela mídia de que havia um precioso acervo de cartas e documentos de Drummond na mão de um jornalista de Lavras, liguei para ele imediatamente", diz Marconi Drummond Lage, primo do escritor e superintendente da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade.

"Cicareli me contou que era filatelista e estava fazendo uma exposição de selos no Rio de Janeiro quando um amigo ofereceu o lote de cartas. Ele me disse —o que é muito engraçado— que vendeu um carro pra comprá-las", diz Lage.

Mesmo com propostas vindas da França e Inglaterra, o jornalista vendeu o lote à fundação por R$ 21 mil em outubro do ano passado.

As cartas ficam em exposição na Casa de Drummond até junho. Depois, partem para o Memorial Carlos Drummond de Andrade, também em Itabira.

Escritas entre 1925 e 1948, as 121 cartas constituem um importante instrumento para entender a relação entre o poeta e sua mãe, sobre a qual se sabe muito pouco.

De tom afetuoso, as cartas começam, em sua maioria, com a saudação "Querida mamãe" e tratam de amenidades como o trabalho no Ministério da Educação, notícias sobre a filha Maria Julieta, perguntas sobre Itabira e pedidos de bênção.

Quanto à localização da outra metade, as respostas escritas pela mãe, Lage diz apostar em duas possibilidades: o Instituto Moreira Salles, que abriga parte do acervo da família de Drummond, e a Casa Rui Barbosa, que possui parte do acervo de correspondência do poeta, principalmente com outros escritores da geração modernista.

A reportagem da Folha apurou que há, no Instituto Moreira Salles do Rio, quatro pastas, organizadas pelo próprio escritor mineiro antes de sua morte, contendo cartas escritas pela mãe. São, no total, 288 documentos que datam entre 1925 e 1948 —mesma data das cartas escritas por Drummond.


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