Folha de S. Paulo


Japonês Shigeru Ban vence o Pritzker, maior prêmio da arquitetura mundial

Um ano depois de dar ao japonês Toyo Ito o maior prêmio da arquitetura mundial, o júri do Pritzker acaba de anunciar outro nome do arquipélago asiático o grande vencedor deste ano. Shigeru Ban, famoso por suas estruturas em papelão, tecido e outros materiais atípicos na construção de prédios, é o eleito da vez.

"Receber esse prêmio é uma grande honra e, com isso, preciso ter cuidado", disse Ban, em nota oficial divulgada pelo Pritzker. "Devo continuar a ouvir as pessoas com as quais trabalho, tanto nos projetos privados quanto nas obras de assistência social. Vejo o prêmio como um estímulo para que eu continue a fazer o que faço sem mudar quem eu sou."

Arquiteto que despontou nos anos 1990, Ban vem ganhando cada vez mais reconhecimento mundial na ressaca da crise econômica, que pôs fim temporário aos projetos megalomaníacos do início deste século.

Suas construções de baixo impacto, ou seja, estruturas leves, feitas de materiais descartáveis e com baixo custo de execução, viraram símbolo de uma nova onda de austeridade que varreu a arquitetura mundial.

São obras também associadas a catástrofes climáticas. Uma igreja escorada por colunas de papelão que ele construiu em Kobe, no Japão, virou uma espécie de manifesto arquitetônico depois do terremoto que arrasou a cidade há quase 20 anos.

No ano passado, depois que Christchurch, na Nova Zelândia, também sofreu um abalo sísmico de grandes proporções, Ban refez a catedral local, que desabou no desastre, usando estruturas de papel.

Entre seus projetos de maior envergadura, está a filial do Pompidou em Metz, no norte da França. Inspirado no formato de um chapéu chinês, a construção estruturada a partir de uma grelha ondulante de madeira mantém a principal marca expressiva de Ban, que é a fusão do espaço interno com o seu entorno.

Durante a construção da obra, elaborada num escritório feito de papel improvisado na cobertura do Pompidou, em Paris, Ban disse em entrevista à Folha que aquele era seu projeto mais difícil. "Queria um prédio aberto ao público, não uma escultura estanque", disse Ban. "Era algo que pudesse envolver o entorno."

Ban também chegou a projetar algo semelhante como proposta para a nova sede do Museu da Imagem e do Som, que está sendo construído agora no Rio, mas perdeu o concurso para a projeto enviado pela firma americana Diller Scofidio + Renfro.

Nos Estados Unidos, ele constrói agora a nova sede do Aspen Art Museu, um ousado projeto com galerias móveis feitas de vidro e uma fachada semelhante ao Pompidou de Metz, com detalhes geométricos em madeira.

Outras duas obras de grande impacto na carreira de Ban foram uma casa em Tóquio com cortinas no lugar das paredes externas, criando uma arquitetura fluida e aberta ao meio-ambiente, e um museu nômade, criado com contêineres que podem ser agrupados e rearranjados em diferentes composições em cada lugar onde é montado.

"Há uma tendência hoje de retirar o impacto das grandes obras, dos grandes desenhos, e tentar premiar arquiteturas que falem com menos", diz Francisco Spadoni, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. "E o Shigeru Ban tem essa obra do baixo impacto, é uma ideia interessante."

POLÊMICA

Embora o arquiteto japonês seja mestre de uma obra vanguardista, sua escolha como vencedor do Pritzker é considerada um tanto conservadora por críticos de arquitetura, que esperavam maior ousadia do júri do prêmio depois da polêmica do ano passado, em que a arquiteta Denise Scott Brown liderou uma petição para ser incluída ao lado do marido Robert Venturi como uma das premiadas.

Até hoje, só duas mulheres, a iraquiana Zaha Hadid e a japonesa Kazuyo Sejima, foram outorgadas com o prêmio. Depois da controvérsia em torno de Scott Brown, a expectativa era que o Pritzker escolhesse premiar uma mulher este ano, ou mesmo o arquiteto norte-americano Steven Holl, cotado diversas vezes para o prêmio.


Endereço da página:

Links no texto: