Folha de S. Paulo


Joan Baez recebe Geraldo Vandré e Suplicy em show em São Paulo

Já era de se imaginar que o primeiro show em São Paulo da cantora e violonista folk norte-americana Joan Baez, 73, que ocorreu na noite deste domingo no Teatro Bradesco, tivesse um viés político.

Ícone da contracultura dos anos 60 e ex-mulher de Bob Dylan, desde os anos 1950 ela é engajada em causas como o movimento pelos Direitos Civis –era amiga de Martin Luther King (1929-1968) –, a defesa dos Direitos Humanos, as lutas contra a Guerra do Vietnã e a pena de morte, entre outras.

Joan Baez, que veio ao Brasil em 1981 e teve seu show no Tuca vetado, resgatou o músico Geraldo Vandré, 78, que se mantém longe da vida pública desde 1973, quando retornou do exílio.

Antes de sair para o bis, Joan o chamou ao palco e cantou o hino de protesto "Pra não Dizer que não Falei das Flores" (1968). Vandré ficou parado no palco, segurando um boné, nitidamente emocionado, e o público aplaudiu e cantou em uníssono.

Ela também convidou ao palco o senador Eduardo Suplicy (PT), que foi recebido tanto com vaias quanto com aplausos.

Zanone Fraissat/Folhapress
Eduardo Suplicy canta com a cantora Joan Baez em São Paulo
Eduardo Suplicy canta com a cantora Joan Baez em São Paulo

Ele cantou a sua já conhecida interpretação de "Blowing in the Wind", de Bob Dylan. Desafinado, o político foi amparado pela habilidosa dupla de músicos que acompanha Baez, que improvisaram em cima dos seus tropeços.

"Ensaiamos ontem por apenas quatro minutos", brincou a cantora após a saída de Suplicy.

ENCICLOPÉDICO

A primeira passagem efetiva da cantora pelo país, por si só, é um evento histórico. E ela não fez questão nenhuma de disfarçar o caráter enciclopédico do espetáculo.

Elo vivo com o folk dos anos 60, a artista de ascendência hispânica repassou seus clássicos, como "Diamonds & Rust" (1975) e interpretou alguns dos principais standards da música de raiz norte-americana, como uma versão bilíngue de "Deportee (Plane Wreck at Los Gatos)", de Woody Guthrie –antes da qual, discorreu contra a política de imigração nos EUA–, e a canção tradicional "The House of Rising Sun", popularizada pelos Animals em 1964.

Ela cantou ainda "Suzanne" (1967), do canadense Leonard Cohen, "The Boxer" (1969), de Simon & Garfunkel, além de "Farewell, Angelina" e "It's All Over Now, Baby Blue" (ambas de 1965), de Dylan, sendo que a última teria sido inspirada por ela.

O set list ainda comportou uma versão de "Imagine", de John Lennon, e outras três músicas brasileiras, em português: "Mulher Rendeira" e "Acorda, Maria Bonita", acompanhadas no acordeão e puxadas para o baião, e "Cálice" (1973), de Gil e Chico Buarque. A ponte com a música hispânica também foi feita em releituras de canções como "Gracias a la Vida", de Violeta Parra.

Acompanhada apenas por um percussionista e um multi-instrumentista (banjo, violão, baixo, piano, acordeão e bandolim), Baez fez uma apresentação intimista, demonstrando a mesma voz translúcida e emocionante que a consagrou.

Depois de Porto Alegre e Rio, ela volta a se apresentar em São Paulo nesta segunda, e toca em Recife na quinta e na sexta-feira.


Endereço da página:

Links no texto: