Folha de S. Paulo


Curta brasileiro no SXSW mistura repressão e 'rolezinho de fantasmas'

Em "Caveirão", único curta-metragem brasileiro selecionado para a mostra de cinema do festival SXSW (South By Southwest), em Austin, Texas (EUA), um policial com uma face de caveira recebe uma missão: conter um grupo de fantasmas animados que se divertem ao som de chorinho na madrugada de São Paulo.

"Um amigo viu o filme e falou: 'cara, isso é um rolezinho de fantasmas'. Eu mudaria o nome do curta para isso se não fosse tarde demais", brinca o diretor Guilherme Marcondes, premiado internacionalmente pela animação "Tyger" (2006) e vencedor do Prêmio dos Diretores do Anima Mundi.

Divulgação
O curta-metragem brasileiro
Cena do curta brasileiro "Caveirão", exibido na mostra de cinema do festival SXSW, em Austin (EUA)

Caveirão é uma espécie de força de repressão do mundo sobrenatural no curta que mistura live-action e animação 3D e 2D. Ele é convocado para colocar ordem quando criaturas provocam caos no mundo real, uma espécie de "caça-fantasmas brasileiro".

O visual da autoridade com face de caveira é uma modernização assustadora do protagonista de "O Vigilante Rodoviário", série brasileira famosa nos anos 1960.

"A ideia original era de colocar essa face em um cavalheiro do século 19 segurando um gramofone, mas isso mudou quando assisti ao 'Vigilante Rodoviário', que é muito fascista se você observar hoje em dia."

Apesar de ter feito alguns testes de animação em uma estação de metrô semiabandonada de Nova York, onde mora, o animador e diretor paulista de 36 anos recebeu a proposta de levar "Caveirão" para o Brasil.

"Heitor Dhalia [cineasta de 'Serra Pelada'] gostou do projeto para sua produtora, a Paranoid, e eu achava que deveria ser ambientada no Brasil, então precisei escrever um roteiro em 10 dias", explica o diretor, que fez o curta com cerca de US$ 150 mil e dinheiro de Brasil, França e EUA. "Foi caro, mas quis fazer algo que não deixasse nada a dever para produções interacionais."

Já o combate entre uma força de repressão oficial e fantasmas que querem apenas dançar ao som de um chorinho –de Ernesto Nazareth com arranjo original do DJ Anvil FX– no centro de São Paulo não foi inspirado pelos choques entre protestantes e policiais no Brasil, ano passado, ou os recentes rolezinhos.

"Foi uma coincidência. O roteiro foi escrito no início de 2012. Eu estava na Inglaterra trabalhando quando os protestos aconteceram e não consegui dormir com os relatos na internet", conta Marcondes.

"Imaginei o mundo dos mortos como algo livre, em outro plano, mas obedecendo algumas regras da realidade. Então criei uma estrutura fascista e, no Brasil, a estrutura de repressão é a polícia.".

"Caveirão" teve uma boa recepção no SXSW e deve fazer sua estreia no Brasil em julho, na programação do festival Anima Mundi 2014.


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