Folha de S. Paulo


Hugh Laurie admite se aposentar como ator para se dedicar à música

Hugh Laurie, 54, faz shows no Brasil neste mês, cantando os clássicos de blues que gravou em dois discos bem-sucedidos nas paradas e elogiados pela crítica.

A boa receptividade para uma nova carreira que ele encara já cinquentão não é pouca coisa. Laurie admite até deixar para trás seu lado ator.

"Consigo me imaginar um ator aposentado, apenas tocando e cantando. Acho a música uma profissão nobre. Tenho orgulho de fazer o que faço agora. Tudo me empolga e quero aproveitar a chance de prosseguir", disse em entrevista à Folha, de Los Angeles.

Patrick Seeger/Efe
Hugh Laurie se apresenta em programa alemão, em 2011
Hugh Laurie se apresenta em programa alemão, em 2011

Essa opção deixa no passado sua juventude fazendo humor no teatro inglês —ele nasceu em Oxford e fala com sotaque—, bons filmes no cinema e oito temporadas na TV como o médico cínico e mal-humorado Gregory House.

Os 176 episódios de "House", de 2004 a 2012, deram a ele dois prêmios Globo de Ouro e um cachê acumulado de mais de US$ 40 milhões (cerca de R$ 88 milhões).

Foram motivos mais do que suficientes para adiar tanto a carreira na música?

"Eu não sei exatamente a razão de ter demorado tanto. Talvez não tivesse a confiança necessária, ou talvez eu tivesse realmente que fazer antes as minhas coisas de ator."

Laurie teve aulas de piano desde os seis anos e relembra quando, aos dez, foi "infectado pelo blues".

"Ouvi uma canção de Willie Dixon no rádio e a sensação foi a de ter tomado um choque elétrico. E eu ainda sinto hoje os arrepios desse choque, 40 anos depois."

Nessas décadas, ele diz que passou a ter tantos heróis na música que não consegue sequer começar a colocá-los numa lista de preferências.

"São muitos aqueles que escuto o tempo inteiro, tento aprender com eles. É possível dizer que eu estudo esses caras. Mas acredito que meu músico favorito seja Dr. John. Sempre foi, e sempre será."

DUETOS COM MESTRES

Ele reconhece que a fama de "House" o ajuda a ter bons contatos. Em seu primeiro álbum, "Let Them Talk" (2011), chamou Dr. John para um dueto em "After You've Gone", um blues de 1918.

No segundo disco, "Didn't It Rain" (2013), convidou outra lenda, Taj Mahal. "Escolhi meus heróis. Taj Mahal é um gigante do blues e a canção que nós escolhemos para tocar, 'Vicksburg Blues', é uma favorita de ambos."

Laurie diz que, depois de cantar em casa desde criança, aproveitou chances de incluir a música em suas atuações —nas comédias que fez nos anos 1980 com Stephen Fry, participando de videoclipes e às vezes empunhado uma guitarra em "House".

Mas só a partir de 2011, ao se dedicar o tempo todo a gravações e shows, compreendeu "a força da música".

"Eu amo o lado aventureiro da coisa. Fazer um bom show, subir no ônibus e acordar em outra cidade, às vezes em outro país, isto é uma experiência incrível."

O cantor reconhece seu deslumbramento com a vida na estrada: "Para mim é fantástico, mais do que é para a rapaziada da banda, porque eles vivem fazendo isso há muitos anos. Mas eu não acho que possa um dia ficar cansado dessa vida."

Laurie acredita que atuar e cantar sejam completamente diferentes. Diz que se sente colocando máscaras quando atua e tem a sensação de tirar todas no palco.

A paixão pela música também suspende sua carreira de escritor —um de seus livros, "O Traficante de Armas", virou best-seller. Por enquanto, ele não pensa em escrever.

"Agora é música. Eu não sei qual será o próximo passo. Eu nunca fui bom em planejar as coisas", diz.

A turnê de Hugh Laurie no Brasil tem shows marcados para as cidades do Rio de Janeiro (dia 20), Belo Horizonte (21), Brasília (23) Curitiba (25), Porto Alegre (27) e São Paulo (29 e 30).

HUGH LAURIE EM SP
QUANDO dias 29 e 30 de março
ONDE Citibank Hall, av. das Nações Unidas, 17.955
QUANTO de R$ 200 a R$ 450, à venda no site ticketsforfun.com.br
CLASSIFICAÇÃO 14 anos

Divulgação
Dr. John, pianista e cantor de blues norte-americano
Dr. John, pianista e cantor de blues norte-americano

OS HERÓIS DE HOUSE
Três lendas do Blues

Dr. John, 73
Cantor de visual extravagante que toca piano e guitarra, despontou em 1968 com o álbum "Gris-Gris". Participou do primeiro CD de Laurie

Taj Mahal, 71
Tocando guitarra, banjo, gaita e piano, ele revigorou o blues ao misturá-lo com ritmos caribenhos. Foi convidado no segundo álbum de Laurie

Willie Dixon (1915-1992)
Cantor mais influente do blues (ao lado de Muddy Waters), foi o maior compositor do gênero e ganhador de Grammy. É o favorito de Mick Jagger


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