Folha de S. Paulo


Crítica: Refilmagem retoma teor de sátira, mas perde humor em 'RoboCop'

Vinte e sete anos separam o "RoboCop" original, dirigido pelo holandês Paul Verhoeven, deste "remake" de José Padilha.

O filme de Verhoeven era uma sátira à era Reagan e ironizava o belicismo norte-americano, a ganância corporativa, a falta de liberdades individuais, o controle da mídia e a utopia de paz social pela força. Era uma comédia sangrenta em forma de filme B.

O tempo passou, mas os temas continuam, basicamente, os mesmos. A ameaça não é mais a União Soviética, mas os terroristas islâmicos, e a paranoia americana continua forte (está aí Snowden que não nos deixa mentir).

Divulgação
O ator Joel Kinnaman usa a armadura de RoboCop em cena do filme
O ator Joel Kinnaman usa a armadura de RoboCop em cena do filme

Esse filme de Padilha retoma o teor satírico do original, adaptando-o aos novos tempos. Infelizmente, sem o humor anárquico do primeiro.

O longa começa bem, com uma sequência mostrando tropas de robôs norte-americanos, em 2028, garantindo a paz nas ruas ocupadas de Teerã. Um executivo bilionário (Michael Keaton), dono da Omnicorp, corporação que domina a tecnologia dos "soldados-robôs", tenta convencer o governo americano a abolir a polícia "humana" e botar os robôs nas ruas do próprio país.

Mas a população resiste. Não quer um homem de lata e sem alma atirando pelas ruas. Entra Alex Murphy (Joel Kinnaman), um policial que é quase morto em uma emboscada de traficantes e ressuscita como RoboCop. Parece ser a salvação da Omnicorp —e dos Estados Unidos.

PERDAS

O filme de Padilha perde do original em três quesitos importantes: as cenas de ação são genéricas, limitando-se a tiroteios e pancadarias hipervelozes em ritmo de videogame; os vilões não são marcantes como no filme de Verhoeven; e a sátira política e social logo perde a graça, de tão exagerada e caricata.

Prova disso é o personagem de Samuel L. Jackson, um apresentador de TV ultranacionalista e histérico, claramente inspirado no personagem de André Mattos em "Tropa de Elite 2". Suas primeiras aparições são divertidas, mas a repetição e o tom caricato acabam por torná-lo um mala.

O filme tem ótimas sequências —em especial, uma que mostra RoboCop sendo "desmontado"— e é admirável a coragem de Padilha em expor as hipocrisias de Tio Sam. Mas este "RoboCop" não tem a graça e a diversão do primeiro.

ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e diretor do programa "O Estranho Mundo de Zé do Caixão", no Canal Brasil

ROBOCOP
DIREÇÃO José Padilha
PRODUÇÃO EUA, 2014
QUANDO estreia sexta-feira (21)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular


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