Folha de S. Paulo


Aumenta febre de consumo de exposições pelas redes sociais

Uma moça esfrega o nariz numa das máscaras do filme "De Olhos Bem Fechados", de Stanley Kubrick. As enormes bolas coloridas da artista japonesa Yayoi Kusama viram pano de fundo para carícias de casais. E um rapaz com o indicador em riste imita a pose do Cristo de Rafael.

Na legenda da fotografia postada no Instagram, ele diz que a pintura é "séria", que ele é "sério" e que a mostra é "séria". E diretores de museu levam mais a sério do que nunca essas mostras com poder de fogo nas redes sociais.

De olho nesses flagras, ou "selfies", transmitidos ao vivo por smartphones direto das mostras de maior bilheteria no país, muitos já aposentaram suas plaquinhas de "proibido fotografar" e encomendam projetos arquitetônicos que estimulem a febre de olhar, fotografar e postar.

"Museus estão se tornando menos opressores", diz Felipe Chaimovich, curador do Museu de Arte Moderna paulistano. "As pessoas já chegam fotografando. E o nosso desafio agora é olhar para esse novo gestual do público."

Tanto que o MAM abre na terça (28) uma mostra inspirada no poder de síntese das mensagens no Twitter -140 obras para os 140 caracteres das frases no microblog.

Danilo Verpa/Folhapress
Visitante fotografa sala da mostra sobre Stanley Kubrick no MIS
Visitante fotografa sala da mostra sobre Stanley Kubrick no MIS

São trabalhos que já pertenciam ao acervo do museu, reunidos com a intenção de refletir o clima das manifestações que varreram o país em junho do ano passado, turbinadas em grande parte pelo poder das redes sociais.

Uma instalação de Jonathas de Andrade, aliás, foi incluída para servir de cenário de fotos no Instagram. É uma mesa e uma cadeira de escritório, que o público poderá usar. "Vamos incentivar mesmo os visitantes a se fotografarem ali", diz Chaimovich.

No Museu da Imagem e do Som, que levou 80 mil pessoas à mostra sobre os filmes de Kubrick e viu seu número de fãs no Facebook saltar de 7.000 para 67 mil em dois anos, a ordem é manter o "hype" com o que André Sturm, diretor do espaço, chama de "experiências sensoriais".

"Fotografar hoje é como respirar. Não tem por que não deixar", diz Sturm. "Enquanto uma exposição for uma experiência, o público vai querer compartilhar. Isso gera um grande boca a boca."
Depois da avalanche de tuítes e fotos da mostra de Kubrick, o MIS se prepara para um novo fenômeno em torno da mostra sobre David Bowie, que começa nesta sexta (31).

Não por acaso, escalou os mesmos arquitetos da cenografia de Kubrick para montar a mostra sobre o músico.

'PICOS DE EMOÇÃO'

"Quando a gente concebe essas cenografias, a ideia é pensar num público ativo", diz Carmela Rocha, da equipe de arquitetos do museu. "As pessoas hoje sentem a necessidade de serem tocadas pelos cinco sentidos. É a museografia da experiência."

Ou espaços capazes de despertar "picos de emoção", como diz Pieter Tjabbes, curador da mostra do holandês M.C. Escher há três anos no Centro Cultural Banco do Brasil, pioneira na onda de exposições que formam par perfeito com as redes sociais.

"Já é uma regra nas minhas exposições ter um lugar onde as pessoas possam se fotografar", diz Tjabbes. "Isso é para o nosso bem, para divulgar melhor a exposição."
E nada parece divulgar mais um evento do que entupir as redes com suas fotos.

Nesse ponto, as filas quilométricas das viradas madrugada a dentro que o CCBB inventou em suas mostras sobre impressionistas, renascentistas e, agora, artistas pop dão tempo de sobra para o público sonhar e postar.

Hoje o museu tem oito pessoas na equipe que cuida de sua presença nas redes sociais e usa seu poder na web como argumento na hora de convencer os donos das obras em exibição para que possam sempre ser fotografadas.


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