Folha de S. Paulo


Coreógrafo Luis Arrieta comemora 40 anos de dança

O bailarino e coreógrafo argentino Luis Arrieta, 62, diz que, a cada vez que se coloca no palco, ele escolhe uma maneira de ser visto.

Agora, quando comemora 40 anos de trabalho no Brasil, escolheu ângulos novos e mutantes para um tema secular do balé: o cisne -"Delicado e feminino, mas também agressivo e masculino com seu pescoço fálico", diz.

Arrieta criou, em 1990, uma coregrafia sobre o trecho "O Cisne" da sinfonia "O Carnaval dos Animais", do compositor francês Camille Saint-Saëns (1835-1921). O desdobramento da obra estreia hoje em São Paulo, no espetáculo "39155 Mutações".

Davi Ribeiro/Folhapress
O coreógrafo e bailarino Luis Arrieta em ensaio do espetáculo na zona oeste de São Paulo
O coreógrafo e bailarino Luis Arrieta em ensaio do espetáculo na zona oeste de São Paulo

É um solo, mas de certa forma, também é um trio. No palco, Arrieta interage com um percussionista e uma violoncelista, que vão construindo a coreografia junto com o bailarino.

O "I Ching", oráculo e livro de sabedoria chinês, tem a ver com as mutações do bailarino-cisne nessa coreografia.

Arrieta não quer explicar demais. "Hoje, todo mundo quer ter uma explicação a priori. Querem entender tudo o tempo inteiro. É como discutir a relação, não rola."

Dança, para ele, é percebida e entendida pelo próprio corpo. A relação sexual é uma das metáforas que mais usa para falar da arte que escolheu como profissão.

"Muita gente sai de um espetáculo de dança totalmente tocada, mas diz que não entendeu. Por quê? É como alguém que acaba de transar e sente-se bem fisicamente: vai querer explicar o quê?"

O embate entre razão e sensibilidade que vê no público também é vivido pessoalmente. "Eu sempre quero entender, sou virginiano."

Editoria de Arte/Folhapress

PROCESSO DE CRIAÇÃO

A referência está ligada ao lado metódico e objetivo associado ao signo de Virgem.

Com essa objetividade, Arrieta explica o processo de criar coreografias. "A maior parte do processo é: quando sai a verba? Qual o prazo? Nada dessa ideia romântica de que o coreógrafo entra num palco cheio de cisnes e começa a criar os movimentos."

Com ou sem romantismo, o coreógrafo já criou mais de 150 obras para companhias estrangeiras e brasileiras -como os balés da Cidade de São Paulo e do Teatro Castro Alves (BA), o Ballet del Teatro San Martín (Argentina) e o Nacional de Cuba.

Aos 62 anos, só não pensa em parar. "Muitos artistas param para preservar o nome. Mas, daqui para frente, tenho pouco tempo. Vou perder esse tempo me preservando?".

O principal, afirma, é simples: "Gosto de dançar. Não tenho mais o vigor da juventude, se é que alguma vez tive. Mas tenho tudo o que já foi estimulado em meu corpo. É o melhor que posso oferecer na minha idade".

39155 MUTAÇÕES
QUANDO de qui. a sáb., às 20h; dom., às 18h. Até 19/1
ONDE Complexo Cultural Funarte SP (al. Nothmann, 1.058, tel. 0/xx/11/ 3662-5177)
QUANTO R$ 10 e R$ 20


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