Folha de S. Paulo


Crítica: 'Até que a Sorte Nos Separe 2' não é um bom filme, mas as risadas são possíveis

No início de "Até Que a Sorte Nos Separe 2", após uma apresentação dos personagens por meio de um álbum de fotos da filha adolescente, Jane, mulher de Tino, aparece com o rosto omitido pelo enquadramento. Após alguns segundos e a revelação tardia de seu rosto, a fala entrega: "Sou uma outra mulher".

É uma brincadeira com a troca da atriz. No lugar de Danielle Winits do primeiro filme, neste temos Camila Morgado. Fala idêntica havia sido proferida em "Sempre Bela" (2006), de Manoel de Oliveira, quando Bulle Ogier anuncia estar no lugar de Catherine Deneuve (o filme retoma dois personagens de "A Bela da Tarde", de Buñuel).

Roberto Santucci tem tino para comédias de sucesso, e esta sequência já chega bombada pelo gigantismo de sua estreia (uma enormidade de salas no Brasil) e pelas participações especiais de Anderson Silva e Jerry Lewis.

Vemos novamente o gastador profissional Tino (Leandro Hassum) e sua fogosa mulher abençoados pelo dinheiro fácil -a herança do tio Olavor. Como contrapartida, devem jogar as cinzas do morto no Grand Canyon, pretexto para torrarem milhões em Las Vegas.

Santucci faz aqui sua melhor comédia. Os valores rasteiros de uma classe média alienada ainda estão presentes, assim como um tipo de humor que precisa ser mastigado para não deixar dúvidas na plateia. Mas pelo menos há graça em alguns momentos, sobretudo pelo talento de Hassum e pelas referências a outros filmes.

Sobram brincadeiras para Jerry Lewis, cuja estreia como diretor intitula-se "The Bellboy", justamente a profissão de seu pequeno personagem aqui. E a piada com "Olga", longa protagonizado por Camila Morgado, é engraçada e espirituosa.

As risadas são possíveis porque Santucci permite, por vezes (o que já é um avanço), que o trabalho dos atores seja valorizado, algo essencial para uma comédia.

"Até Que a Sorte Nos Separe 2" passa vergonha se comparado às pérolas que Jerry Lewis dirigiu e protagonizou, e nem mesmo é um bom filme (os exageros e o desleixo com a câmera ainda estão presentes). Mas ao menos significa um progresso no desolador cenário do cinema brasileiro para grande público.

ATÉ QUE A SORTE NOS SEPARE 2
Direção: Roberto Santucci
Produção: Brasil, 2013
Onde: Espaço Itaú de Cinema Pompeia e circuito
Classificação: 12 anos
Avaliação: regular


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