Uma temporada baseada em "A Sagração da Primavera" só poderia terminar com ousadia. Além de tocar a própria obra de Stravinsky (1882-1971), escrita há cem anos, os concertos de encerramento da Osesp, que terminaram no último sábado, trouxeram uma estreia mundial e uma obra da vanguarda dos anos 1920.
Estrear uma obra complexa no final do ano não é comum, mas faz sentido em uma temporada em que as diversas séries da orquestra apresentaram ao menos 25 diferentes compositores vivos.
Houve, entretanto, pesar: o compositor mineiro Eduardo Guimarães Álvares (1959-2013) morreu em março e não pôde acompanhar a primeira audição de sua obra derradeira, "A Lua do Meio-Dia".
Mas nada poderia abalar o brilho da festa preparada para o naipe de percussão, ainda mais porque a peça foi regida pelo timpanista Ricardo Bologna e teve como solista a (também) timpanista Elizabeth Del Grande, homenageada por seus 40 anos de casa.
"A Lua do Meio-Dia" é uma obra atonal que respira livremente, tocada por Beth com garra, precisão e limpeza. Um grande crescendo dos tímpanos prepara a entrada dos sinos, seguidos por teclados e tambores. Adiante, piano e celesta tomam conta da textura e preparam os clusters (acordes dissonantes) finais.
Depois veio "Amériques" (1921), do francês Edgard Varèse (1883-1965). Nunca se viu tantos instrumentistas no palco da Sala São Paulo, a começar por uma dezena de percussionistas, incluindo os dois timpanistas e uma invasiva sirene. É música que se quer selvagem, sem tempos para lirismo ou repouso.
Por fim, "A Sagração da Primavera", que a Osesp tocou como se estivesse gravando um CD ao vivo.
A regente Marin Alsop sabe muita música, deixa os ritmos límpidos, equaliza a superposição dos acontecimentos, arredonda o som (como na "Introdução" da segunda parte), conjuga a fluência do todo aos apelos dos fragmentos.
Regente e orquestra passaram sem sacrifício pelas loucas alternâncias de compassos da "Dança do Sacrifício" para, assim, fechar a travessia.
ENCERRAMENTO DA TEMPORADA 2013 DA OSESP
AVALIAÇÃO ótimo