Folha de S. Paulo


Diretor Zé Celso estreia quarta parte da saga sobre Cacilda Becker, iniciada nos anos 1990

Sentado em uma poltrona de sua casa no Paraíso, bairro paulistano, pés sobre a mesa, um colar indígena no pescoço e o cigarro apertado na mão, o diretor José Celso Martinez Corrêa, ao cair da noite de terça, divaga sobre a atriz Cacilda Becker (1921-1969).

Bom, não é a primeira vez que ele faz isso.

Livro celebra 55 anos de Teatro Oficina

Mito maior da geração de artistas que transitou pelo Teatro Brasileiro de Comédia, Cacilda tornou-se o centro de uma louca obsessão na obra de Zé Celso, o diretor do grupo Uzyna Uzona, sediado no Teatro Oficina, no Bexiga.

Lenise Pinheiro/Folhapress
A atriz Sylvia Prado em cena de 'Cacilda!!! - Glória no TBC'
A atriz Sylvia Prado em cena de 'Cacilda!!! - Glória no TBC'

Neste sábado, ele estreia "Cacilda!!!! - a Fábrica de Cinema e Teatro", quarta parte de uma saga biográfica iniciada nos anos 1990.

A primeira parte, "Cacilda!" (o número de exclamações determina o capítulo), trazia Bete Coelho, Leona Cavalli e Giulia Gam no personagem-título. Agora, fazem o papel Camila Mota e Sylvia Prado, veteranas do grupo.

"Zé, quantas Cacildas mais virão por aí?". "Não sei. Vai ter a Cacilda cinco exclamações, depois encenaremos 'A Tempestade' [Shakespeare]."

A nova montagem só terá cinco apresentações neste ano, uma no dia 23, em homenagem ao irmão de Zé Celso, Luis Antônio Martinez Corrêa, diretor de teatro assassinado em 1987.

TALENTO E LOBBY

Com um sorriso maroto, o diretor diz que os textos "são psicografados". Seu vasto campo de pesquisa inclui cartas guardadas pela biógrafa da atriz, Maria Thereza Vargas. Mas a liberdade poética fala mais alto, especialmente na criação de diálogos.

A nova "Cacilda" visita um momento na vida da atriz em que ela já se estabeleceu como intérprete estrelada, com trânsito entre poderosos, inclusive entre ricaços da sociedade paulistana e carioca.

Na peça, ela marca presença em eventos importantes para a cultura brasileira, esticando seu talento ao lobby entre empresários e políticos, como na criação da companhia cinematográfica Vera Cruz, no fim dos anos 1940.

Também seus amores são retratados, com foco no relacionamento com Adolfo Celi (1922-1986). "Cacilda era namoradeira", diz o diretor, que a conheceu nos anos 1950.

A vida sobre os palcos ganha passagens, com menções a "Arsênico e Alfazema", comédia de Joseph Kesselring, e "A Importância de ser Prudente", de Oscar Wilde.

CACILDA!!!! - A FÁBRICA DE CINEMA E TEATRO
QUANDO sáb. e dom., às 18h; até 22/12 (sessão extra na segunda, dia 23/12, às 14h30)
ONDE Teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, Bexiga, tel. 0/xx/11/3106-2818)
QUANTO R$ 40
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


Endereço da página:

Links no texto: