Folha de S. Paulo


Crítica: Documentário 'Cidade Cinza' faz elogio ao trabalho de grafiteiros de SP

No início, "Cidade Cinza" parece um documentário sobre Osgemeos, artistas de rua que ganharam merecida projeção internacional.

Um deles diz coisas batidas sobre São Paulo: é uma selva de concreto, é tudo cinza, não tem praia onde se possa relaxar, blá-blá-blá.

Claro que ele tem suas razões, mas generalizações como essas servem sobretudo para dar conta de uma insatisfação impensada, encobrindo a diversidade que uma cidade grandiosa como esta não consegue esconder.

Divulgação
Nina Pandolfo pinta grafite em cena filmada no documentário 'Cidade Cinza', de Guilherme Valiengo e Marcelo Mesquita
Nina Pandolfo pinta grafite em cena filmada no documentário 'Cidade Cinza', de Guilherme Valiengo e Marcelo Mesquita

Afinal, não é só numa praia que se pode relaxar, e tem muito verde na cidade, para quem quer ver.

Depois do blá-blá-blá inicial, o documentário dirigido por Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo revela-se um elogio às cores e formas da arte de rua que tomou conta de São Paulo desde os anos 1980, graças a verdadeiros guerreiros que faziam sua arte efêmera (porque apagada dias depois) e valiosa.

A censura a essa arte urbana piorou com a Lei Cidade Limpa, do ex-prefeito Kassab, mantida na gestão atual.

Mas "Cidade Cinza" não é partidário. O filme se interessa apenas em mostrar a possibilidade de demagogia (no momento em que Kassab prestigia a inauguração de um mural) e a insistência no embelezamento dos muros da cidade.

Os caras vão lá, pintam, fazem obras de arte (algumas ruins), e uma equipe da prefeitura vai e apaga. Uma equipe que funciona como a crítica (que julga as obras), mas também como censura (pois não permite que as obras sequer existam).

E que caras são esses que vão lá e pintam, sabendo que seu esforço pode ser em vão? Alguns dos maiores expoentes de tal arte paulistana: Otávio e Gustavo Pandolfo (conhecidos como Osgemeos), Carina Pandolfo (Nina), Francisco Rodrigues (Nunca) e outros artistas mais jovens.

O filme ainda mostra a associação dos grafiteiros com o movimento hip-hop, tem trilha sonora interessante de Criolo e belas imagens aéreas de São Paulo, esta metrópole feia que se faz bonita para quem a conhece de fato.

CIDADE CINZA
DIREÇÃO Guilherme Valiengo e Marcelo Mesquita
PRODUÇÃO Brasil, 2013
ONDE exibição gratuita hoje no Centro Cultural da Juventude (av. Deputado Emílio Carlos, 3.641; tel. 0/xx/11/ 3984-2466; www.ingresso.ccj.art.br) e no circuito
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO bom


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