Folha de S. Paulo


Crítica: Rei Artur é tema de volume recém-descoberto de Tolkien

Os fanáticos por J.R.R. Tolkien (1892-1973) sonhavam há décadas com a ideia de que o autor de "O Senhor dos Anéis" teria preservado um suposto poema sobre a lenda do Rei Artur.

Menções breves em cartas redigidas por ele nos anos 1950 e reproduzidas pelas biografias do escritor eram tratadas como sinais de esperança de que a única incursão do britânico nas crônicas arturianas poderia estar escondida --e não destruída.

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No ano passado, o mistério foi desfeito quando Christopher Tolkien, filho caçula e guardião da obra do pai, apresentou "A Queda de Artur" aos estupefatos editores da inglesa HarperCollins, que colocaram as mãos em 40 páginas do poema resgatado da biblioteca Bodleian, em Oxford, onde o escritor ensinou e viveu boa parte da vida.

Christopher adicionou 120 páginas de anotações e "a obra perdida do criador de 'O Senhor dos Anéis'" finalmente foi publicada em inglês, em maio passado --chegando ao Brasil neste mês.

Apesar de a lenda ser bastante difundida, o texto não é para os fãs de ocasião de "O Senhor dos Anéis". "A Queda de Artur" é escrito em versos aliterantes (ligações sem rimas usando as consoantes repetidas dentro de um verso) que o próprio Tolkien evitava --em "O Senhor dos Anéis", usou de forma proeminente apenas no trecho passado nas terras de Rohan, os senhores dos cavalos.

Tanto Christopher Tolkien quanto o tradutor brasileiro preparam o leitor em dois prefácios explicativos. E talvez esse seja o maior acerto de "A Queda de Artur": não deixar o texto original mais hermético do que ele já é e produzir um material vasto para acompanhá-lo.

Não que o poema em si precise de ajuda para se sustentar pelos próprios méritos, principalmente porque a poderosa versão original em inglês também está no livro.

Os versos contam a última missão do Rei Artur, depois da partida das legiões romanas da Grã-Bretanha, com a eloquência descritiva do homem que fez um mundo inteiro em "O Silmarillion" (espécie de Velho Testamento da Terra-média) e a melancolia de quase toda sua obra.

Para os iniciados, impossível não notar similaridades entre o poema arturiano e a criação da Terra-Média, que Tolkien povoou com seus hobbits, elfos e anéis poderosos. Mirkwood, por exemplo, onde a principal batalha é travada, é uma palavra de origem medieval que batiza a floresta do elfo Legolas.

Não deixa de ser irônico que nomes como Frodo e Gandalf atualmente sejam até mais conhecidos que Artur, Galahad e Guinevere. Um preço que "A Queda de Artur" não se importa em pagar.

A QUEDA DE ARTUR
AUTOR J.R.R. Tolkien
TRADUÇÃO Ronald Eduard Kyrmse
EDITORA WMF Martins Fontes
QUANTO R$ 32 (312 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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