Folha de S. Paulo


Obra adaptada por filme 'Azul é a Cor Mais Quente' discute mortalidade e perda

A HQ que inspirou a primeira adaptação de quadrinhos a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes foi criada por uma jovem quadrinista que, na época em que a escreveu, tinha 19 anos.

A autora, Julie Maroh, agora com 28, diz que hoje vê todos os defeitos da obra, realizada quando era tão jovem. "Ganhei um concurso de quadrinhos cujo tema era '15 anos de idade', e ganhei confiança para escrever a história", diz. "A essência de 'Azul...' veio nesse momento."

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Reprodução
Sequência em que Clementine e Emma, o casal de protagonistas da HQ da francesa Julie Maroh, decidem ficar juntas
Sequência em que Clementine e Emma, o casal de protagonistas da HQ da francesa Julie Maroh, decidem ficar juntas

Lançada em 2010 na França, "Azul É a Cor Mais Quente" (Martins Fontes) aproveita o sucesso do filme para chegar ao Brasil --e se envolve nas polêmicas do longa.

Maroh se nega a responder perguntas sobre a produção, mas publicou uma declaração em seu site sobre o processo de adaptação --"apenas uma outra visão para a mesma história"-- e sobre o tratamento que recebeu do diretor Abdellatif Kechiche --que não responde suas mensagens desde 2011.

No texto, ela descreve as cenas de sexo entre as protagonistas como "uma demonstração brutal e cirúrgica do suposto sexo lésbico que se tornou pornô", o que a deixou desconfortável.

Para ela, a maneira como Kechiche as gravou se relaciona a outro momento do filme, no qual personagens falam sobre o mito do orgasmo feminino como algo místico e muito superior ao masculino. "Acho isso perigoso", escreve.

"Como uma espectadora feminista e lésbica, não posso aprovar a direção que ele tomou nessas questões."

MENSAGEM

Quadrinhos e longa têm inícios similares --com a diferença de que a protagonista da HQ, Clémentine, recebe o nome de Adèle no filme--, mas apresentam desfechos bem distintos. Mesmo assim, para Maroh, tanto ela quanto o diretor tinham os mesmos interesses na história e ninguém desejava militar sobre a causa homossexual.

"Este livro apresenta uma reflexão sobre a mortalidade e o que resta do amor perdido", diz ela à Folha. "A vida não é um desenho animado."

Assim, não se trata de algo apenas para lésbicas, mas de uma forma de contar uma história de amor. "Não quero passar uma mensagem fechada. Gosto da ideia de que o leitor tome posse dela."

AZUL É A COR MAIS QUENTE
AUTORA Julie Maroh
TRADUÇÃO Marcelo Mori
EDITORA Martins Fontes
QUANTO R$ 39 (160 págs.)


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