Folha de S. Paulo


Com fotógrafo de operários, Planalto abre exposição sobre 70 anos da CLT

O fotógrafo Assis Horta, 95, fotografou personalidades como os presidentes Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves, mas é com os retratos de cerca de 70 mil anônimos que ganha, a partir desta segunda-feira (2), espaço de honra no foyer do Palácio do Planalto.

A exposição "Assis Horta - A democratização do retrato fotográfico através da CLT [Consolidação das Leis do Trabalho]" resgata a história brasileira por meio de retratos dos primeiros trabalhadores e operários a fazerem fotos 3 x 4 para suas carteiras de trabalho.

O acervo ganhou o 12º Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Funarte em 2012 na categoria Reflexão Crítica sobre Fotografia e foi apresentado de maio a junho deste ano no Museu do Diamante, em Diamantina.

Alan Marques/Folhapress
O fotógrafo Assis Horta, 95, posa em frente em frente aos retratos de exposição sobre a CLT, em Brasília
O fotógrafo Assis Horta, 95, posa em frente em frente aos retratos de exposição sobre a CLT, em Brasília

São cerca de 200 cliques, entre fotos para o documento e fotos posadas, de trabalhadores de Diamantina (MG) que, antes da obrigatoriedade do registro fotográfico na carteira de trabalho, em 1943, não tinham acesso a essa tecnologia.

Fotógrafo há 79 anos, Horta acompanhou de perto esse processo. Dono de um estúdio de fotografia em Diamantina, fotografou famílias que nunca tinham feito qualquer registro do tipo. Algumas tão pobres, relata ele, que tinham de pedir emprestadas as roupas em que apareceriam nas fotos.

"Eu tinha três chapéus e um terno, que emprestava para todo mundo que não tinha roupa para posar", disse, ao ressaltar seu cuidado com a revelação das fotos. Em todo o seu material em preto e branco, vê-se especial cuidado com a textura das roupas, com a expressão dos fotografados e com a necessidade de esconder ou ressaltar a simplicidade de trabalhadores de fábricas mineiras.

Em sua carreira de fotógrafo profissional fez amigos, entregou fotos fiado, presenteou famílias e, de volta, conta Horta, chegou até a fazer suas alianças de casamento com uma pepita de ouro que serviu de pagamento para as fotos de um garimpeiro.

Registrou todo tipo imagem até o advento das máquinas digitais, no fim do século passado. A idade, o encarecimento do papel fotográfico e a preferência por máquinas analógicas e chapas de vidro fizeram Horta parar. "Eu gosto de ter o negativo. De fazer o positivo e o negativo, não gosto de foto digital."

A mostra em Brasília trata-se de um recorte da trajetória do fotógrafo, que também documentou o processo de tombamento de Diamantina, Ouro Preto e outras cidades históricas mineiras para o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Na exposição, os visitantes poderão também fazer seu próprio registro, aos moldes do que era feito por Horta há mais de 60 anos. Uma réplica de seu painel, uma de suas marcas registradas, foi instalado no foyer do palácio e serve de fundo para quem quiser se aventurar no mundo da fotografia.

A mostra estará aberta ao público no Palácio do Planalto a partir desta terça-feira (3), de segunda a sexta-feira das 9h às 18h, e aos domingos, das 9h30 às 14h. A entrada é franca.


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