Folha de S. Paulo


Mário de Andrade já deixou sua biografia em cartas, diz herdeiro

Sobrinho de Mário de Andrade (filho da irmã mais nova do escritor, Maria de Lourdes), o engenheiro e empresário Carlos Augusto de Andrade Camargo, 74, afirma não considerar necessária uma biografia sobre o tio.

"Através das milhares de cartas que escreveu e foram publicadas, Mário deixou sua própria biografia", disse, em entrevista por e-mail.

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"Quem se interessar por Mário tem ao seu dispor dezenas de livros de correspondência, em que ele se coloca desinteressadamente, com a maior espontaneidade e sinceridade, própria de uma troca entre amigos."

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Mário de Andrade em 1940 com seu sobrinho Carlos Augusto, hoje porta-voz da família
Mário de Andrade em 1940 com seu sobrinho Carlos Augusto, hoje porta-voz da família

Indagado se recorreria à Justiça para impedir uma biografia do tio, afirmou: "Não raciocino sobre hipóteses".Camargo diz saber do trabalho de Jason Tércio e que trocou com o biógrafo e-mails, cujo teor não quis revelar.

Segundo Tércio, o sobrinho de Mário lhe escreveu que ele não contaria "com a concordância, o apoio ou colaboração" da família.

Questionado sobre o relato do biógrafo, Camargo respondeu: "Conversas com meus interlocutores não são de interesse público".

Ele tampouco quis comentar a versão de que a sexualidade de Mário seria entrave à publicação de uma biografia.

"Moacir Werneck de Castro, José Bento Faria Ferraz (só para citar dois que conviveram com Mário) já escreveram a respeito. Não tenho nada a acrescentar", disse, citando o jornalista fluminense e o secretário pessoal de Mário.

Em seu livro "Exílio no Rio", Werneck de Castro escreveu que Mário tinha uma "sexualidade reprimida, irrealizada ou mal realizada".

"Nada havia em seu comportamento conosco, nem mesmo na desinibição ao fim de grandes chopadas, que o denotasse. (...) Parecia natural, próprio de sua personalidade, um certo dengo, a maneira engraçada de dizer, por exemplo, "'Ah, que gostosura!', ou escandindo as sílabas, 'uma de-lí-cia!' Era o jeito dele."

Numa entrevista à Folha em 1997, Ferraz disse: "Soube que na estadia de Mário no Rio ele usava tóxicos, cocaína, sei lá o quê. Agora, se ele era homossexual, não sei". (FV)


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