Folha de S. Paulo


Peça de Daniel Craig e Rachel Weisz deve bater recorde na Broadway

Em um quarto de hotel, Emma confessa ao marido, Robert, que está tendo um caso com o melhor amigo dele, Jerry. Econômico, o agente literário se limita a dizer que gosta mais do amigo que da mulher. "Talvez eu é quem deveria ter tido um caso com o Jerry", ironiza.

É a única cena em que o casal, vivido por Rachel Weisz e Daniel Craig, aparece sozinho no palco em "Betrayal", que estreia oficialmente em 27 de novembro, na Broadway.

Astros de cinema viram chamariz de peças na Broadway

O apelo junto ao público do atual intérprete do agente secreto James Bond, que atua na peça ao lado da mulher na vida real, contribuiu para tornar os ingressos, nas palavras do "New York Times", os mais "quentes" deste outono na cidade.

Só na primeira semana de pré-estreias, a produção vendeu mais de US$ 1,1 milhão em ingressos. Estima-se que até o final da temporada de 14 semanas ela deverá bater o recorde de arrecadação para uma produção não musical na Broadway.

Craig, no entanto, não é a maior atração da montagem. Apesar de apresentar um registro contido e bastante diferente do que o público se acostumou a ver no cinema, é Weisz quem conduz como a enigmática Emma.

Rafe Spall ("A Vida de Pi") também rouba a cena como o atormentado Jerry, que por vezes se sente mais traído que o amigo em quem está passando a perna.

O texto do britânico Harold Pinter (1930-2008), vencedor do Nobel em 2005, mostra em ordem reversa o caso extraconjugal, do reencontro dos amantes dois anos depois do fim do caso amoroso ao momento em que se entregaram à relação proibida, sete anos antes.

A estrutura faz com que a profundidade dos personagens seja desvelada aos poucos, até a última cena. Os silêncios iniciais são preenchidos paulatinamente.

A montagem é dirigida por Mike Nichols, vencedor do Oscar por "A Primeira Noite de um Homem" (1967) e de sete prêmios Tony de melhor direção --o último deles em 2012 pela remontagem de "A Morte do Caixeiro Viajante" no mesmo teatro.

Só os mais detalhistas vão reparar na trilha minimalista, assinada por Scott Lehrer, do LCD Soundsystem. Já a engenharia dos cenários chama a atenção pela rapidez com que um pub se transforma em apartamento e este em um hotel italiano, tornando desnecessários intervalos no espetáculo (de 90 minutos aproximadamente).

Antes da versão atual, a peça já havia ganho duas montagens na Broadway: uma em 1978, com Blythe Danner, Roy Scheider e Raul Julia, e outra no ano 2000, com Juliette Binoche, John Slattery e Liev Schreiber.

No Brasil, Paulo Autran recebeu um prêmio Molière em 1982 pela atuação na adaptação da peça, dirigida por José Possi Neto. Por aqui, o texto recebeu o nome de "Traições", no plural.


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