Folha de S. Paulo


Crítica: Riqueza do instrumental brasileiro volta a brilhar no CopaFest

Só por ter incluído em sua programação uma homenagem musical ao hoje quase esquecido maestro e arranjador paulista Erlon Chaves (1933-1974), o 6º CopaFest - que terminou na madrugada de domingo, no salão do hotel Copacabana Palace, no Rio - já teria provado sua relevância cultural.

Assim como fez na edição de 2011, quando tirou o produtor e arranjador Lincoln Olivetti de um longo período de ostracismo, o CopaFest resgatou neste ano a original contribuição de um artista, que o preconceito racial e o moralismo quase extirparam da história da música popular brasileira.

Durante o show-baile do sábado, o guitarrista e cantor Max de Castro até poderia ter falado um pouco sobre o legado de Erlon Chaves, cuja obra certamente era desconhecida por parte da plateia. Max preferiu ser prático: antes mesmo de lembrar sucessos como "Cosa Nostra" ou "Eu Também Quero Mocotó" (de Jorge Ben), já tinha conquistado o salão com o suingue do maestro e pioneiro da black music brasileira.

Divulgação
O pianista Wagner Tiso e a banda Som Imaginário no CopaFest, na quinta-feira (31)
O pianista Wagner Tiso e a banda Som Imaginário no CopaFest, na quinta-feira (31)

À frente da afiada banda Esquerda Festiva, o elétrico guitarrista revisitou outros clássicos do repertório da Banda Veneno, veículo dos arranjos de Erlon, que misturavam soul, jazz e a malandragem do samba, como "Vou Deitar e Rolar" (Baden Powell e Paulo César Pinheiro) e "De Noite na Cama" (Caetano Veloso). Não faltou também a fase bossa nova do maestro, que trabalhou com Elis Regina e Wilson Simonal, representada por "Balanço Zona Sul" (Tito Madi).

Dizendo-se emocionado por estar a uma quadra do lendário Beco das Garrafas, onde sua carreira emergiu de vez com a onda do samba-jazz, no início dos anos 1960, o veterano trombonista Raul de Souza fechou a noite de sexta, com inspiradas releituras instrumentais de "A Flor e o Espinho" (Nelson Cavaquinho) e "Céu e Mar" (Johnny Alf), entre outras.

Ainda nessa noite, a plateia também pôde se deliciar com a apresentação do octeto do pianista Tomás Improta, que recriou com muita sensibilidade musical pérolas da obra de Dorival Caymmi (1914-2008), como "O Mar", "Rosa Morena" e "Você Não Sabe Amar", incluindo uma oportuna participação da cantora Virgínia Rodrigues. Releituras tão belas, que merecem virar disco para serem apreciadas por um público mais amplo.

Na abertura do evento (quinta-feira), foi emocionante ver o pianista mineiro Wagner Tiso novamente ao lado de seus antigos parceiros do grupo Som Imaginário, que fundiu rock progressivo, jazz e MPB, nos anos 1970. Clássicos da obra de Milton Nascimento, como "Milagre dos Peixes", ou a nostálgica "Casa no Campo" (de Tavito e Zé Rodrix), reviveram a trajetória do grupo, que hoje é uma mini seleção de craques da música instrumental.

A apresentação do Duo Elo, vencedor de um concurso de novos talentos promovido pelo festival, assim como a jovem banda Bondesom, que fechou o baile-show de sábado, mostraram também que o CopaFest está certíssimo por não olhar apenas para o passado. Aliás, nem poderia ser muito diferente, em um país como o Brasil, onde se cultiva uma das músicas instrumentais mais originais e criativas do mundo.

O crítico CARLOS CALADO viajou a convite da produção do evento

6º COPAFEST
AVALIAÇÃO ótimo


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