Folha de S. Paulo


Osesp completa turnê por salas vip da Europa

Diante de uma plateia mais fria do que a da estreia de sua turnê europeia, em Paris, a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) se apresentou na última sexta-feira na sala londrina Royal Festival Hall.

O programa debruçou-se sobre partituras que dão forma melódica à agitação sociopolítica da virada dos anos 1950 para os 1960, no Brasil e no mundo. Camargo Guarnieri (1907-1993) emprestou sua "Sinfonia n. 4 - Brasília" (1963), inscrita na euforia modernizante da capital nascente.

De Luciano Berio (1925-2003), e com a participação do grupo The Swingle Singers, ouviu-se a "Sinfonia para Oito Vozes e Orquestra" (1968), que ecoa refrãos e palavras de ordem das ruas no período, com acenos à trajetória de Martin Luther King Jr. (1929-1968). Leonard Bernstein (1918-1990) compareceu com as "Danças Sinfônicas" de "West Side Story" (1957).

Nenhuma das três arrebatou o público, mais entusiasmado com a levada jazzística de "Victory Stride", de James P. Johnson (1894-1955), no bis.

Com o concerto de sexta, a formação completou o périplo pela "santíssima trindade" das salas europeias: além do Royal Festival Hall, a orquestra fez seu "debut" nas últimas semanas na Salle Pleyel (Paris) e na Filarmônica de Berlim. A turnê, que passou por 13 cidades desde o dia 7, chegaria ao fim ontem, em Manchester.

"[A turnê] Foi importante para aumentar a visibilidade da Osesp mas também para garantir a qualidade da programação que oferecemos em São Paulo", avalia o diretor artístico da orquestra, Arthur Nestrovski. "Para mantermos o nível de regentes e solistas dos últimos anos, e até para agendar a ida ao Brasil de alguns artistas, precisamos fazer parte do circuito internacional de primeira linha."

A crítica europeia acompanha com interesse a evolução da Osesp; divide-se, porém, quanto à "promoção" dela à liga das maiorais. Os franceses "Figaro" e "Diapason" enalteceram a formação em textos de apresentação dos concertos. Alguns resenhistas, nem tanto.

O do alemão "Berliner Zeitung" acusou uma distância da "interpretação com profundidade e delicadeza [...] espirituais" que ressoa do piano de Nelson Freire, solista em parte da turnê. Já o do site francês Concert Classic viu um conjunto "aplicado", que, sob a batuta "enérgica e sem nuances" de Marin Alsop, transforma uma sinfonia de Mahler "numa máquina de guerra [...] com alto poder de fogo, mas dotada de uma força bruta que não deixa necessariamente vencedores".

"O mais importante são as respostas do próprio meio musical [artistas e programadores]", diz Nestrovski.

O jornalista LUCAS NEVES se hospedou em Londres a convite da Osesp.


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