Folha de S. Paulo


Crítica: 'O Foguete' tira proveito de cultura exótica e ator mirim

Um dos efeitos culturais da globalização foi a difusão da "world music", expressões locais que sempre existiram, mas que conquistaram novos públicos. O "world cinema" é seu equivalente, com seus filmes vindos de origens exóticas e que tiram partido das diferenças locais.

"O Foguete" reúne esse tipo de ingredientes. Depois de ter sua eficiência comprovada no Festival de Berlim, onde conquistou três prêmios, o longa obteve outros três, incluindo o de melhor filme segundo o público no Tribeca Film Festival, em Nova York, e foi o escolhido pela Austrália para representar o país na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro do ano que vem.

Embora adote recursos emocionais de imediata identificação e temática com mensagem universal, o público tira satisfação de ter assistido a um filme sobre uma realidade longínqua e cuja suposta exceção agrega valor.

Todo passado no Laos, "O Foguete" segue a sina de Ahlo, um garoto que nasce num parto de gêmeos. Como manda a tradição de sua tribo, gêmeos são sinônimo de má sorte e precisam ser sacrificados no nascimento.

Apesar da regra, o garoto é poupado e terá a infância marcada por tragédias e perdas, como comprovações de que o divino não admite trapaças.

O rumo de Ahlo, contudo, desafia a concepção cega de sina. Entre as razões míticas e outras condenações ocasionadas pela racionalidade humana, o personagem segue um clássico percurso de formação.

Logo aprende que o que não mata engorda e a superar as armadilhas. Assim, o filme incorpora uns tantos temas, como os desastres ecológicos, o autoritarismo de um regime socialista, a ameaça fantasma do imperialismo norte-americano e as bombas perdidas.

Apesar de tantas adversidades, "O Foguete" escolhe um olhar do encantamento, tira vantagem de ter uma criança como protagonista e dos efeitos de descoberta associados a esse tipo de personagem.

Mesmo quando incorpora o discurso social e enfatiza a mensagem da sustentabilidade, o diretor Kim Mordaunt, em sua estreia na ficção, consegue preservar a aparência de fábula da narrativa.

Para isso, claro, tira o máximo de seu protagonista mirim, Sittiphon Disamoe, que não tem apenas o nome impronunciável como qualidade em comum com Quvenzhané Wallis, a pequena atriz de "Indomável Sonhadora". Como o filme americano que surpreendeu em 2013 com quatro indicações ao Oscar, "O Foguete" também tem muito do que a Academia e seu público cativo admiram.

O FOGUETE
QUANDO hoje, às 19h35, e na quarta, às 20h
ONDE Reserva Cultural 1 (hoje) e Espaço Itaú de Cinema - Augusta Anexo 4 (quarta)
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO bom


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