Folha de S. Paulo


Análise: Bom mesmo era não ter nada para fazer depois do almoço

"Sessão da Tarde" não é simplesmente um filme passando na TV. É também você jogado no sofá, um litro de Nescau batido no liquidificador, a chuvinha que se escuta lá fora e o cachorro que ronca no tapete. E, às vezes, uma soneca, porque o filme não é lá essas coisas, ou até pode ser legal, mas você já viu umas 17 vezes.

Cada um tem sua lembrança particular da "Sessão da Tarde". É uma questão de idade. Em comum, aquela boa sensação adolescente de não ter muito mais para fazer entre o almoço e o jantar.

No ar desde 1974, 'Sessão da Tarde' está ameaçada de extinção
Vote no maior clássico da história da 'Sessão da Tarde'

Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress

Quem tem hoje 50 anos viveu seu período mais intenso de prostração televisiva nos anos 1970. Conhece todas as comédias de Jerry Lewis e provavelmente acha que "O Terror das Mulheres", "Ou Vai ou Racha" e "Errado pra Cachorro" são as melhores.

Sabe quem são Poca Cuca e Eric Von Zíper, que eram os tipos divertidos da turma da praia de "Como Rechear um Biquíni", "Quanto Mais Músculos Melhor" e outros clássicos. E chorou com "A História de Elza", a leoa criada feito pet pelos zoólogos bacanas.

Já aqueles que entram agora na casa dos 30 passaram tardes dos anos 1990 vendo filmes da década anterior -é bom ressaltar que na época os lançamentos de cinema levavam muito tempo até chegar à TV, primeiro em horário nobre e, alguns anos depois, nas reprises vespertinas.

A programação da memória afetiva dos trintões tem "Goonies", "De Volta Para o Futuro" e "Quero Ser Grande".

Para não parecer que o mundo da "Sessão da Tarde" era só fofura, naquela época também apareciam na TV depois do almoço os anabolizados Chuck Norris, Schwarzenegger, Van Damme e Sylvester Stallone -este alternava suas cicatrizes, concentradas no rosto de Rocky Balboa ou espalhadas pelo corpo de John Rambo.

Quem mal passou dos 20 se lembra de filmes recentes que ainda não podem pleitear status de clássicos. No máximo, são lembrados pela presença de Lindsay Lohan no elenco, ainda menininha e antes de sua fase rehab.

Não ver mais a "Sessão da Tarde" provoca uma melancolia que pode não ter relação com os filmes, sejam eles de qualquer geração.

As pessoas sentem falta de um tempo em que não passavam a tarde em escritórios, lidando com colegas que puxam seus tapetes, cartões de crédito que insistem em estourar, índices de colesterol e uma dor chata nas costas.

É a saudade do sofá.


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