Folha de S. Paulo


Aerosmith e Whitesnake só precisam correr para o abraço no encerramento do Monsters of Rock

Duas bandas veteranas de perfis muito parecidos fecharam a edição 2013 do festival Monsters of Rock na noite de domingo (20), em São Paulo, e agradaram sem muito esforço. Aerosmith e Whitesnake têm quantidade suficiente de hits pesados que flertam com o pop e que funcionam com várias tribos roqueiras.

Os 30 mil ingressos do segundo dia do evento foram todos vendidos, como ocorreu no sábado, quando grupos mais jovens também reuniram uma multidão. Quem puxou a primeira noite foram as bandas americanas Slipknot e Korn.

A plateia dominical tinha de tudo um pouco, de garotada acompanhando os pais até fãs tão sessentões quanto os integrantes das duas bandas principais da programação.

Depois de uma tarde de remanescentes do rock farofa californiano dos anos 1980, como Dokken e Ratt, o Whitesnake do inglês David Coverdale elevou o nível. Adorada no Brasil desde o primeiro Rock in Rio, em 1985, a banda mostrou seu hard rock romântico. "Os brasileiros gostam de músicas sobre amar e transar, e o Whitesnake tem muitas músicas com esse tema". disse Coverdale.

Verdade. Ele emprestou o vozeirão, ainda em forma aos 62 anos, para hits que embalaram namoros nas últimas três décadas. O público, com grande presença feminina, cantou junto "Fool for Your Loving", "Love Ain't No Stranger" e, em clima apoteótico, "Here I Go Again".

O grupo ainda brindou o público com "Burn", hit da seminal banda de hard rock Deep Purple, na qual Coverdale foi vocalista nos anos 1970.

Se o Whitesnake monta seu show oscilando entre sons mais pesados e baladas, essa fórmula também move o Aerosmith há muitos anos.

A banda de Boston foi bem mais rock nas décadas de 1970 e 1980. O cantor Steven Tyler e o guitarrista Joe Perry são uma espécie de Mick Jagger & Keith Richards do rock americano (imagem reforçada pela boca enorme de Tyler, à altura dos famosos lábios de Jagger). Depois de o grupo quase se afundar de vez nas drogas, renasceu nos anos 1990 para os fãs da MTV.
Seus clipes épicos e melodramáticos geraram um "segundo Aerosmith", com pouco do rock pesado que fez antes, mas com muito mais sucesso.

O show no Anhembi, que começou às 23h10, teve um pouco das duas caras do Aerosmith. Do hard rock de "Back in the Saddle" ao romantismo exarcebado de "I Don't Want to Miss a Thing", que, junto com outras canções lentas, Tyler apresentou na passarela que o levava até o meio do público.

E a noite provou, mais uma vez, uma máxima do rock and roll: em shows para plateias gigantescas, ganha o jogo quem tem repertório. No caso do Aerosmith, é até covardia. Muita bandas sonham em ter nos seus discos uma música tão eletrizante quanto "Toys in the Attic". E essa a banda já entrega ao público no terceiro número da noite. Poderia ser um final empolgante de show, mas aqui é só o começo da festa.

Tyler, 65, e Perry, 62, ainda desempenham bem. O cantor rebola, pula, puxa brincadeiras com a plateia, faz malabarismos com o pedestal do microfone. Logo na segunda música, deu um peixinho no chão do palco. Conhece tudo desse ofício de entreter.

Foi tudo como o público queria, até a habitual cover de "Come Together", dos Beatles. Só a lamentar a ausência previamente anunciada do baixista Tom Hamilton, substituído nesta turnê por David Hull. Hamilton, 61, foi impedido por médicos de viajar para a América do Sul, sem mais detalhes divulgados. Em abril, ele esteve internado por infecção pulmonar.

Duas horas depois, com um bis de antigas ("Dream On", de 1973, e "Sweet Emotion", de 1975), grupos de amigos, casais e famílias inteiras deixaram o lugar evidentemente satisfeitos.


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